quinta-feira, fevereiro 02, 2006

"Amores Feiticeiros", de Tahar Ben Jelloun

« Conta-me uma história de amor, uma história oriental, uma bela história de amor, de ciúme, de sangue e de morte! Conta-me uma história senão mato-te!
Ela disse estas palavras com uma estranha doçura. Tem os olhos ligeiramente molhados, o olhar triste e todo o seu corpo se alonga para os braços do homem que a corteja há algum tempo.

− Sou como uma planta, se não me regares eu murcho. Preciso que me regues de palavras e de frases que contem uma história. Só serei tua se a história mexer comigo, se me fizer verter lágrimas. Se o conseguires, entrego-me a ti de corpo e alma. Como diz o poeta: “Há flores a que chamamos amores-perfeitos / Colhi algumas que me cresciam nos sonhos.”
− Senão?
− Senão mato-te!
− Mas tu bem sabes que não sou escritor nem contador de histórias e muito menos poeta, sou banqueiro, passo os meus dias mergulhado em números, de ouvido colado ao telefone, em contacto com as principais Bolsas do mundo. Como queres tu que me transforme em sedutor e poeta?
− Então, pior para ti. Eu não preciso de dinheiro. Preciso de sentimentos, de palavras, de palavras que é necessário escolher, de flores a que se chama cuidados, de rosas a que se chama presença, de sonhos que habitam as árvores, de canções que fazem dançar estátuas, de estrelas que segredam ao ouvido dos amantes… Preciso de poesia, dessa magia que incendeia o peso das palavras, que desperta as emoções e lhes dá novas cores. As palavras escolhem combinações inesperadas e proporcionam-nos embriaguês e alegria, transportando-nos a lugares que os homens esqueceram. É disso, meu caro, que eu preciso.»

Excerto do conto Sedução, em Amores Feiticeiros, de Tahar Ben Jelloun

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