quinta-feira, janeiro 29, 2009

"Brinquedo" por Luisa (Depois de várias tentativas para encaixar o texto, as fotos desapareceram e tive que repetir, daí estar fora da ordem habitual)



Já que tivemos "autorização" para enviar fotografias tiradas por outras pessoas, mando esta feita pelo meu Pai, em casa dos meus Avós paternos, na Av. 5 de Outubro, no dia do meu primeiro aniversário.
O presente foi esta boneca de papelão. Não sei quem ma deu e as pessoas a quem poderia perguntar já cá não estão.
Da história desta boneca nada mais sei mas três anos depois, no Entroncamento, ainda aparece ao meu colo. A partir daí, perdi-lhe o rasto.

Luisa


Não consegui que este post ficasse com um aspecto estético melhor: de tanto lhe mexer, já depois de o ter lá em baixo na habitual ordem alfabética, desapareceu tudo e não fui capaz de recuperar nada, por isso está aqui um pouco desalinhado.
M


Para a semana de 29 de Janeiro a 5 de Fevereiro

A Maga escolheu a palavra "Eleição".

Esta semana estiveram 31 meninos no recreio...

Agrades António Stein Belisa Bettips Carlos AGM Cerejinha Cristal
Despertando Dulce Escorpião Gustaaf V. B. Jawaa Justine L. Licínia
Luisa M. Mac Mena M. Mj Rocha/Desenhamento Rosalina Sónia Nabais
T. Teresa David Teresa Silva: teresa47@netcabo.pt (mail) TMara Vida de Vidro Vento nos Salgueiros xu-xu agrião Zé-Viajante

"Brinquedo" por Zé-Viajante


A história é simples. 1946. Internamento durante muitos meses no Hospital de Santa Marta em Lisboa.
Uma meningite + granulia tuberculosa (era assim que lhe chamavam) queriam que o menino deixasse os seus pais.
Acabou por safar-se. Fleming e a penicilina deram uma grande ajuda. Mas acho que foram os médicos e enfermeiros daquele hospital que conseguiram o milagre. Não admira que quisessem posar para a prosperidade com o seu "brinquedo".
Dou Graças a Deus por isso.
Zé-Viajante

"Brinquedo" por xu-xu agrião


Esta fotografia tirou a minha mãe, pois é em casa dela que os meus brinquedos estão. Aqui vão eles: dois póneis e dois livros.O pónei roxo trouxe-me o meu avô dos Estados Unidos, não sei bem que idade tinha. Era especial porque tinha musica por dentro.O outro já não me lembro, mas sei que gostava de brincar com ele.E, para mim, o mais importante na fotografia e o que mais tem a ver comigo até hoje, são os livros.Adorava livros, mesmo antes de saber ler. E mais tarde, para aí com dez ou onze anos, lembro-me da minha mãe a perguntar porqueé que não ia brincar lá para fora. Quando estava a ler, estava a ler!É assim até hoje. Livros continuam a ser os meus brinquedospreferidos. E quem me quiser ver furiosa que me interrompasem razão...
xu-xu agrião

"Brinquedo" por Vida de Vidro


Era só uma boneca. Se pudesse falar, para lá daquela imitação de “mamã” que tinha gravada algures dentro de si, falaria da menina de cinco anos e da alegria à sua volta quando a puseram nas suas mãos. Só o menino Jesus a podia ter trazido, talvez para a consolar por ter estado muito doente naquele ano. Nas terras ali à volta não havia nenhuma igual. Uma amiga da menina tinha uma parecida mas o pai trouxera-a de longe, duma cidade grande. E ela queria tanto uma boneca assim… Sabia que era alta, linda, de cabelos ruivos e olhos azuis. Se lhe dessem a mão, andava e até dizia aquele “mamã” mal articulado. Tinham-lhe dado o nome de Leonor mas rapidamente ficou apenas com o diminutivo: Nô-Nô. Foi a companhia preferida da menina durante muitos anos, suportou-lhe bons e maus tratos, até que ela cresceu e, pouco a pouco, Nô-Nô foi abandonada, guardada num canto da casa. Passou de moda, também. As bonecas passaram a ser esguias e sofisticadas, imitações de modelos de carne e osso. Encostada ao canto, a Nô-Nô esperou, com os olhos azuis muito abertos. Já ouvia crianças na casa, crianças parecidas com aquela menina que a tinha esquecido. E um dia, uma dessas crianças, uma menina franzina, tentou pegar-lhe. Como era difícil para as suas forças agarrar aquela boneca, chamou-lhe “a pesada”. E passava dias inventando histórias sobre aquela estranha companheira, tão diferente das outras. Até a mãe da menina voltou a prestar-lhe atenção. Parecia-lhe que os olhos azuis brilhavam mais. Apesar das mazelas do tempo, a Nô-Nô tinha voltado à vida.
Vida de Vidro

"Brinquedo" por Vento nos Salgueiros


Este tema é realmente muito giro e é impossível não ir ao baú das memórias...Do meu baú tirei um boneco que penso que me tem acompanhado toda a vida. Digo toda a vida, pois fiz uma pesquisa cronológica e encontrei-o comigo numa foto onde devia ter cerca de 1 ano!Sei que é um abuso, mas não resisti em enviar também essa foto...Este boneco marcou-me, talvez pelo facto de ter-me sido oferecido pela minha bisavó e ser das poucas recordações que tenho dela. Obrigada a Mac pelo momento.
Vento nos Salgueiros

"Brinquedo" por TMara


"Brinquedo" por Teresa Silva

Foi difícil encontrar um brinquedo interessante e mais difícil ainda re-encontrar a infância.
Não fiquei com muitos objectos, mas lembrei-me de uma caixa onde guardo ainda, nem sei por que razão, uma considerável colecção de bonecas de papel, dos tempos em que até para brincar era preciso ter algum trabalho: comprava-se uma folha de papel (50 centavos ou 1 escudo), colava-se em cartão ou cartolina e depois recortavam-se as bonecas e os respectivos fatos. Todas têm ainda o nome escrito por trás e as "toilletes" também, para se conhecer quem veste o quê.
Não sei se ainda existem à venda e se há alguma criança que se interesse por estas antecessoras das barbies...


Teresa Silva

"Brinquedo" por Teresa David


Escolhi para mandar, uma foto com o primeiro animal que tive, que era um cão de madeira, com uma casaquinha de xadrez pintada na própria madeira, mas com os membros articulados, o que proporcionava que atando-lhe uma trela podia dar grandes passeatas com ele pelo longo corredor da casa da minha mãe. De início, e, isso é visível na foto, tinha medo dele. No entanto acabou por ser um companheiro do qual nunca me separava.
Teresa David

"Brinquedo" por T.


T.

"Brinquedo" por Sónia Nabais


Não precisei de "viajar" muito no tempo para brincar..... embora seja rapariga a minha paixão sempre foi o arco e a flecha, eu própria fazia os meus arcos, o meu filho herdou isso da mãe.
Sónia

"Brinquedo" por Rosalina























Ora bem, procurando seguir as orientações para a foto desta semana fui à procura de brinquedos. Não me vieram à memória quaisquer brinquedos que tivessem sido meus companheiros de infância... Achei estranho e passei à segunda fase - encontrar numa foto de criança alguma onde estive com um brinquedo. Não encontrei. Bem, fiquei preocupada. E pus-me a olhar com mais atenção as fotos. Em quase todas elas os momentos de brincadeira aparecem sempre associados a objectos da casa. A mesa de apoio na sala, os objectos espalhados pela casa, a loiça no lavatório. Fiquei com um sorriso nos lábios. Sempre fui um pouco estranha. hehehehehhe... Outro elemento comum é a presença da minha irmã. De facto ela estava quase sempre presente nas brincadeiras. Depois há aquelas fotos em que estamos as duas com os primos e aí, sem dúvidas, estou a brincar sozinha. Opções.
Por isso optei por digitalizar uma foto onde estou com a minha irmã a tentar brincar com a loiça. Sei que, segundo o que a mãe conta, uma das minhas brincadeiras preferidas era abrir a porta do armário dos tachos e espalhá-los pelo chão da cozinha.

Rosalina

PS. Eu sou a morena.

"Brinquedo" por Rocha/Desenhamento


O BARCO DE PAPEL * ROCHA DE SOUSA / DESENHAMENTO

A prova, desta vez, envolve uma especial relação de meninicebrinquedo. Se eu estivesse no Algarve, na velha casa que era dos meus pais e que adquiri para preservar um património físico e cultural inestimável, talvez arranjasse qualquer coisa da época, aceitável e fotogénica. Mas tenho outras memórias imperecíveis: uma delas refere-se aos barquinhos de papel que eu fazia às meias dúzias, lançando-os, um a um, na água corrente da valeta, em dias de chuva. Debruçado na porta, largava um barco e ia a correr à janela mais à frente vê-lo navegar, aos solavancos, até o perder de vista ao longe, numa dobra da rua. Noutras situações, o belo brinquedo do barco de papel permitia-me puxá-lo por um fio, nos lagos da maré baixa, carregando-o (cientificamente) com bocadinhos de areis e pequenas conchas. A tal ciência servia para controlar o carregamento, bocadinhos de areia e pequenas conchas: o segredo estava em carregá-lo com parcimónia, para não se voltar. E, nesses casos, a construção tinha que ser mais sólida, usando papel parecido com a cartolina.
A fotografia foi solarizada para que tivesse um ar menos objectivo e mais alegremente memorialista.

"Brinquedo" por Mj


Eis um dos capítulos da minha infância:
A carinha linda deste boneco de porcelana e corpo de papelão tem uma história triste para mim, enquanto criança . . .
Supostamente EU tinha chegado do “emprego” e resolvi, antes de ir fazer o jantar, dar banho ao meu filho . . . claro que fiquei a olhar para a banheira a ver o corpinho dele a desfazer-se por completo . . . Lembro-me que gritei pela minha mãe, pois não estava a perceber bem o que se passava.
Guardei, até hoje, a cabeça por a achar muito bonita, o que me restava de um acto tão maternal, mas “dramático” para mim como “mãe”.
O chapéu que complementa a fotografia foi feito pela minha Mãe e que eu guardo com muito carinho.
É bom recordarmos estes episódios nesta altura do campeonato . . . e mantermos dentro de nós uma criança . . .
Mj

"Brinquedo" por Mena M.



Já que não posso apresentar um brinquedo que foi meu, resolvi fugir um pouco às regras e mostrar-vos duas bonecas que fiz para a minha filha Sarah, a Mafalda (ao colo dela) e o Max, que ela adorava, e que deixou no avião num dos voos para Lisboa. Quando deu por isso teve um desgosto...

Mena

"Brinquedo" por Mac


Este brinquedo é um urso musical. Foi-me oferecido pela minha madrinha de baptismo, tinha eu 1 ano de idade...Ou seja, este brinquedo está quase, quase a fazer 34 anos. É dose!Nas traseiras da cabeça tem um mecanismo de "dar à corda" que solta uma melodia engraçada. Nos seus primórdios, os olhos também se moviam, mas a curiosidade dos miúdos é aquilo que se sabe e portanto há já muitos anos que não funcionam.Foi um dos poucos brinquedos que sobreviveu a uma irmã mais nova que gostava de trucidar os meus brinquedos, e a algumas mudanças de casa...
Mac

"Brinquedo" por M.


Dos pouquíssimos brinquedos que tive em criança apenas guardei este bebé de celulóide. Até agora foi o único de que não fui capaz de me desfazer. Uma vez ou outra tiro-o do armário onde dorme, olho-o nos olhos azuis, e volto a arrumá-lo. Foi-me oferecido pela minha mãe numa altura em que eu estava doente com uma qualquer varicela ou sarampo e, embora o ache agora bastante feioso, sei que o adorava e que o sentia e tratava como se fosse verdadeiro. Ela tricotou-lhe um pequeníssimo fato de banho, a condizer com a sua estatura mínima, e eu lembro-me que o levava para a praia e lhe dava banho nas pocinhas de água. Da alcofa onde o deitava só sei dizer que pertencia à minha mãe, mas não faço ideia se, antes de ser transformada em berço, teria tido alguma função ou se seria apenas decorativa.
M

"Brinquedo" por Licínia



BRINQUEDO

Carvão era o combustível. Incandescente quanto bastasse. De vez em quando esmoreciam as brasas. Era preciso agitar o ar com o abano, abrir as goelas do ferro. Longe da roupa, não fosse saltar faúlha. O melhor carvão era o de sobro, ou o de azinho. Madeiras feitas com demora de anos, de seivas muito elaboradas. A Mãe passava na tábua de madeira, forrada a cobertor velho, com capa de algodão branco ajustada por fitas de nastro. Era uma pena quando, por momentânea distracção, o ferro vazava o calor excessivo e gravava na alvura um triângulo acastanhado. A miúda gostava de observar as manobras. O olho aceso do carvão, os gestos leves e exactos das mãos da Mãe na condução do ferro, no alinhar da roupa, o calorzinho húmido em redor da tábua, em redor da Mãe.
Deram-lhe um ferro de engomar, a sério, só que mais pequenino, que as mãos dela ainda alcançavam pouco mundo. Não, não era um brinquedo. A Mãe punha lá dentro carvõezinhos em brasa e deixava-a passar a roupa da boneca, num banquinho baixo, ao lado da tábua alta. Ainda hoje se lembra do silêncio entre as duas, ponteado pelo tilintar dos ferros, a assentarem nos descansos, no compasso da chegada e partida das peças. Trabalhos de mulheres...

Licínia Quitério

"Brinquedo" por L.


Esta boneca esteve numa montra até ser minha. Não importava que tivesse um toque na ponta do nariz, ela era tudo o que eu queria quando tinha dez anos. Passei de classe e tive-a como prenda. De todos os brinquedos que tive, não me lembro de outro de que tivesse gostado tanto e apesar de tudo, havia sempre prendas de Natal e aniversário. Mas já não existe, desapareceu nesta nossa viagem pela vida.Mas os livros! Se puderem também fazer parte dos brinquedos, então ainda conservo um que lia e relia sem me cansar e que guardo com muito carinho. Está ainda em bom estado. Colei os dois afectos na imagem que escolhi para a palavra desta semana: brinquedos, nossos de preferência.
L.

"Brinquedo" por Justine



















O pátio não era muito grande, mas era suficiente para que eu voasse por ele atrás do ringue, como se à minha frente estivesse um campo aberto. Comigo voava o Sadi, de olhos brilhantes e soltando gargalhadas, como só os cães sabem e só as crianças entendem.
Convocando esse tempo adormecido na minha infância e olhando para aquele pequeno pátio onde cabia todo o meu universo, penso que o meu verdadeiro brinquedo era na verdade o Sadi. O ringue era apenas o pretexto.


Justine

"Brinquedo" por Jawaa


Brinquedos eram bonecas e louças para tomar chá em barro vermelho às bolinhas brancas, peças de alumínio para cozinhar, camas e berços de embalar, mesa e cadeirinhas de verga, tudo para a formação de uma perfeita dona de casa. Houve também um cãozinho de peluche castanho com uma coleira vermelha de fivela, porque eram cãezinhos de verdade que eu colocava entre os lençóis bordados com pintainhos, que se prestavam por pouco tempo àquelas brincadeiras, corroborando meus outros anseios.
O cão maior, o «China», foi meu grande companheiro, por mim alimentado a biberon e de uma fidelidade que nunca me deixou esquecê-lo. A boneca de porcelana teve vida longa e ficou no quarto – já de minha filha – com seu vestido novo de organdi, esperando em vão o nosso regresso após Setembro de 75.
Jawaa

"Brinquedo" por Gustaaf


We will go on 'playing'...
Gustaaf

"Brinquedo" por Escorpião


"Brinquedo" por Dulce

Cerca de seis anos de rechunchudice e a minha boneca preferida. Era loura quase branca e com uns lindos olhos azuis. Se calhar tudo o que eu gostaria de ser, confesso que já não me lembro.

Dulce

"Brinquedo" por Despertando


"Brinquedo" por Cristal


Trata-se de uma caixa metálica, muito mais velha que eu e que éa uma coisa que guardo vinda da minha infância. Não se tratando propriamente de um brinquedo é um objecto com muitas recordações coladas, incluindo a de, às vezes, me servir também de brinquedo... até a minha mãe se aperceber disso! Mais tarde, compreendi porque não me deixava brincar com a caixa brilhante que estava numa prateleira no meu quarto. Era nesta caixa que ela guardava os meus pequeninos anéis, pulseirinhas, brincos e outras "bugigangas" de ouro.
Cristal

"Brinquedo" por Cerejinha


Olá... olá....
Esta não sou eu, mas bem podia sê-lo... É o retrato fiel da miúda tipo do meu tempo de escola. Aliás a única diferença entre este modelo em exposição - na sala da Instrução Primária do Estado Novo no Museu do Brinquedo em Seia - e a minha pessoa é somente o comprimento dos cabelos. Eu tinha cabelos curtos. Em toda a apresentação me revejo. A saia de pregas em xadrez, o "bom gosto" da época que combinava indiscriminadamente riscas nas meias com quadrados na saia, a bata branca, a cesta do lanche (a minha era tal e qual esta) e a inseparável corda de saltar. Brinquedo que, a par do elástico, era o meu preferido. Até o ar de movimento desta miúda me é familiar, de tal modo eu era saltitona. E é essa simplicidade das brincadeiras que mais me dá saudades nos tempos que correm. Os miúdos não são espontâneos a brincar. Os brinquedos são complicados. Perdemos a paciência a desencaixotá-los no meio de um sem número de atilhos e peças plásticas, cartões e placas de esferovite - tudo material inútil que envolve as barbies, os pokets, as mini mascotes e um sem número de sofisticações com nomes esquisitos. Até parece impossível num tempo que se diz de reciclagem...E a seguir, para brincar com aqueles brinquedos, falta a espontaneidade. Nós tínhamos o poder de transformar qualquer erva, pau ou pedra num brinquedo que nos entretinha toda uma tarde. Também é verdade que aos miúdos de hoje além destas matérias primas de proveitos inesgotáveis (ai, que te sujas!) também falta a tarde... O testemunho que pretendo deixar dos brinquedos da minha infância tem a ver com a sensação de liberdade que o brincar nos dava. O poder criar, imaginar, construir, embrenharmo-nos de tal modo nas brincadeiras e termos tempo para tal que, efectivamente, vivíamos um par de horas que "não eram deste mundo".................................
Cerejinha :)

"Brinquedo" por Carlos AGM


aí vai o brinquedo que guardo há já 30 anos!!!!
Carlos

"Brinquedo" por Bettips



Nenhum brinquedo material ficou da voragem dos dias que não eram meus. Todos os poucos brinquedos me ficaram na memória. A fotografia representa o que eu mais gostava de fazer: campismo. E é fácil de prever, para quem já me conhece um pouco: a natureza, os bichos, as árvores, os pés nus na caruma dos pinheiros. O campo, o monte, o mar, a pedra. Se não me lembro bem das salas de escola, destes lugares tenho memórias bem vivas. A sincronia de gestos com o meu pai é pura coincidência: fomos e somos muito diferentes: nem ele nunca soube como tratar uma criança. Com a minha costumada ironia direi que aprendi pela negativa.
***
Brinquedos: poucos, brincar muito! Inventar: quase tudo. Percebo, desde há muito tempo e bem, como a infância de cristal deve ser tratada com dedos de ouro. São preciosos e tão céleres, os tempos da felicidade transparente!

Bettips

"Brinquedo" por Belisa


Aqui envio a foto da minha "Joana" uma boneca especial para mim. Sempre gostei mais desta.
Belisa

"Brinquedo" por António Stein


O Gustavo acompanhado com um dos meus brinquedos.
António

"Brinquedo" por Agrades


Os brinquedos da criança da foto perderam-se, estragaram-se, não chegaram as dias de hoje... Também não teve muitos, nem de grande qualidade. Nasceu no pós-guerra... As bonecas de papelão sofreram com os banhos; as de celulóide foram mordidas... A menina jogava ao ringue e à apanhada, saltava à corda, e ao eixo... A sua corda de saltar não era tão vistosa como a da neta, emprestada para ilustrar a foto, mas era sem dúvida muito mais eficaz.
Agrades

quarta-feira, janeiro 28, 2009

A propósito da palavra "Brinquedo" e da desilusão...

Rosemary's...
(Foto de S.)

O Apóstrofo

Querer viver passados através dos outros não será de recomendar… Este carrinho de boneca pertenceu-me, mas não foi verdadeiramente meu. O segredo estará provavelmente naquele apóstrofo que liga os objectos, ou os afectos, aos donos de ambos. No meu caso, o brinquedo continuou a ser da minha tia: Aunt Mili’s doll’s pram (logo dois sinais de uma vez...), porque ele não me dizia nada. Forrado com tecido de chita salpicado de pequenas flores, as rodas de ferro pintado faziam barulho no chão de madeira e chiavam em movimento de contorcionista. Como era diferente dos carrinhos de bonecas que eu via nas mãos de outras meninas! Com esses sonhava eu, pareciam-se com os das mães que passeavam os seus bebés, e, na fantasia que eu queria viver, precisava de encontrar semelhanças com a realidade que me envolvia. A minha tia teve a ilusão de que eu poderia repetir a infância dela. Não pude, a minha foi Manuela’s childhood. Por causa do tal apóstrofo. E não só. A ilusão dela transformou-se na minha desilusão. Está agora no Museu do Brinquedo, novamente transformada em ilusão para alguém. Talvez, quem sabe.
M

Outubro de 2004

A propósito da palavra "Brinquedo", uma fotografia e um texto que repesquei...

Visita ao sótão
(Foto de S.)

Memórias Soltas

Não foi como presente que este fogão chegou até mim. Terá sido um passar de mão, por causa das proporções que a vida que cresce connosco nos impõe.

Quando o recebi da minha tia Chanel já ela tinha atingido há muito o seu tamanho de adulta e eu era uma criança com mãos pequenas e hábeis a manipular panelas e cafeteiras de bonecas.
O fogão, comprado em Berlim por um amigo do meu avô paterno, tinha sido oferecido à minha tia como prenda de anos. Juntamente com ele vinha um livro de receitas de cozinha para crianças, em alemão gótico: Haustöchterchens Kochschule – Für Spiel und Leben –.* Ainda o conservo, pela antiguidade. Tem na capa uma menina vestida à moda do início de 1900, de avental branco engomado sobre um vestido cor-de-rosa com gola e punhos brancos. A enfeitar-lhe o cabelo louro apanhado no alto da cabeça com uma trança fina, uma fita no mesmo tom do vestido. Do seu rosto delicado de rapariguinha bem comportada emana um sorriso prestes a misturar-se com as claras de ovo subindo em castelo dentro da taça onde ela as bate em remoinhos manuais.
Ora sendo a minha tia de nacionalidade portuguesa, e não tendo até esse momento conhecimento de outras línguas para além da sua, não faço ideia como terá sido resolvida esta fantasia germânica na sua infância. Não imagino o meu avô – nessa época o único na família versado em alemão – a pôr de lado os seus afazeres científicos e literários para se dedicar às experiências culinárias da filha, ainda que filha dilecta. Talvez alguma boneca, quem sabe oriunda de uma loja de brinquedos berlinense, a tenha ajudado a solucionar o problema. Provavelmente aquela Ingrid de corpo rígido e expressão parada em rosto de loiça, com boca de lábios finos bem desenhados, eternamente entreaberta, mostrando uns dentes minúsculos (de boneca, poder-se-á dizer com justeza neste caso). Como se as palavras tivessem ficado congeladas dentro da sua boca, a meio caminho no esforço de entendimento entre as duas culturas: a germânica e a portuguesa. Nela só as pálpebras, os braços e as pernas se moviam, ligeiramente, o que não me admira, pois quando a conheci passava horas deitada numa gaveta de cómoda, entre as roupas da minha tia. No entanto, volta e meia, a tia Chanel retirava-a daquele sono resguardado da infância para me mostrar as habilidades da sua companheira de fantasia. Poisava esses vinte centímetros de altura de engenho alemão em cima de uma mesa e, segurando-a com cuidado pela cintura, orientava-lhe o corpo hirto com um jeito especial, de modo a que ela desse uns passos. Nos tempos actuais do meu tamanho de adulta, sempre que me levanto trôpega da cama ou de qualquer assento em que me tenha afundado, vem-me à ideia aquele andar de boneca.
Confesso que nunca achei graça à Ingrid, pois não lhe encontrava semelhanças com a minha realidade, nem com os meus devaneios de criança. Mas presumo que a minha tia, para além de a ter conservado a seu lado como amiga de brincadeiras, encontrou também nela inspiração para a sua capacidade criativa em matéria de moda. Lembro-me da Ingrid com um vestido de cetim azul forte adornado com punhos e gola de renda branca. E lembro-me também da peculiaridade que sempre conheci na tia Chanel: amputava todas as golas das blusas e vestidos que usava, e substituía-as por outras removíveis. Tinha meia dúzia delas, talhadas e costuradas por ela em piqué branco que colocava depois livremente nas blusas e nos vestidos degolados, conforme as necessidades higiénicas o exigiam. E, para que não caíssem ou rodassem em volta do pescoço tipo carrossel de feira, costumava prendê-las com um alfinete de ouro com uma pedra branca incrustada. Julgo que essa pedra tinha sido o único sobrevivente de um par de gémeos que habitualmente apertavam os punhos das camisas de alguém na família.
Volto ao fogão, porque memórias soltas são, para mim, uma miscelânea de trilhos que se cruzam no meu passeio pela vida. Podia fazer-se nele cozinhados de verdade, para o que bastava acender as duas lamparinas de álcool guardadas nos compartimentos por detrás das duas pequenas portas em baixo. Esteve algum tempo no meu quarto, sobre o chão de soalho onde eu me ajoelhava sempre que as minhas bonecas resolviam oferecer jantarinhos às amigas. Estrelei nele um ovo, creio que uma única vez e sob vigilância adulta, pois tornava-se perigoso deixar o lume entregue a mãos de criança. Só não me recordo se servi o ovo ao pequeno-almoço de uma das minhas bonecas ou se o comi eu. Ambas as coisas terão sido possíveis…
M

* - Em tradução de amadora Escola de cozinha para meninas - Como jogo e para a vida real.

3 de Abril 2005

sexta-feira, janeiro 23, 2009

A propósito do Piódão, recordo momentos bons...

Como um quadro antigo
(Foto de S.)

Presença Esvaziada

Janelas que se abrem e se fecham, que atravessam os anos dentro da claustrofobia da presença e das rotinas. Um piscar de olhos ao mundo que mal se conhece para lá das palavras habituais e do silêncio que pousa na verdura dos montes e neles se demora. Presenças que pouco a pouco se vão soltando das amarras da vida sombria e parada, que dela se despedem e afastam, e se fixam algures. Levam com elas a túnica do passado, que provavelmente vestem por baixo das roupagens do presente que habitam, como aconchego na aventura da partida e das suas existências famintas de mudança. Regressam alguns por breves momentos, atrás da memória dos afectos, ou em busca de bálsamo para o cansaço que lhes pesa nos corpos. E de novo se distanciam do lugar, deixando um rasto de presença esvaziada.
M

19 de Junho de 2006

E porque se fazem associações de ideias e se recordam momentos bons, o Piódão sentido ao nosso modo...

Pedras e flores
(Foto de S.)

As Quatro Marias

Imagino os seus corpos de outros tempos subindo em fila de passos vagarosos a rua íngreme, as bilhas pesadas de água sobre a cabeça. Foram-se as mulheres, adormecidas para sempre no regaço da eternidade. Ficaram as pedras e os contornos das suas vidas, os telhados lembrando as rodilhas esmagadas pelos carregos de então, os olhos azuis de uma Maria pintados nas janelas.

M

13 de Janeiro de 2006

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Para a semana de 22 a 29 de Janeiro

A Mac propõe a palavra "Brinquedo" e manifestou interesse em que a fotografia fosse de um brinquedo nosso. Chamei-lhe a atenção para o facto de que provavelmente muitos de nós já não teriam nenhum. Pediu-me então que vos propusesse que usássemos uma fotografia nossa em criança com um brinquedo. Ora, como sabem, uma das regras do Fotodicionário é a de que as fotografias com que participamos têm que ser tiradas por nós. No entanto, visto a Mac estar tão empenhada que assim seja, abro uma excepção e deixo ao vosso critério como resolver o problema.
E assim, por influência da Mac, teremos provavelmente a infância revisitada de cada um de nós. Com um brinquedo nosso ou com algum outro que nos traga memórias de volta, pela semelhança ou precisamente pelo oposto, ou unicamente pela sua existência como brinquedo. É capaz de vir a ser uma série interessante que nos obrigará a pôr-nos de cócoras, ou de joelhos, ou sentados no chão, ou numa cadeirinha pequena, ou ao colo de alguém, para brincar mentalmente...

Os 31 particpantes desta semana

Agrades António Stein Belisa Bettips Carlos AGM Cerejinha Cristal
David Smith Despertando Dulce Escorpião Justine L. Licínia Luisa M.
Mac MAGA Maria Mena M. Mj M.J.Jara Nucha Rocha/Desenhamento
Rosalina Teresa David Teresa Silva: teresa47@netcabo.pt (mail)
Vento nos Salgueiros Vida de Vidro xu-xu agrião Zé-Viajante

"Aldeia" por Zé-Viajante

"Aldeia" por xu-xu agrião

"Aldeia" por Vida de Vidro

"Aldeia" por Vento nos Salgueiros

"Aldeia" por Teresa Silva

"Aldeia" por Teresa David

"Aldeia" por Rosalina

"Aldeia" por Rocha/Desenhamento

"Aldeia" por Nucha

"Aldeia" por M.J.Jara

"Aldeia" por Mj

"Aldeia" por Mena M.

"Aldeia" por Maria