quarta-feira, novembro 07, 2012

7. M.



Gosto de um barco à vela ao entardecer de um dia de verão. Não importa onde o barco navega nem onde o sol se põe. Um gosto meu. Podemos ter tantos! Aqui em cima da mesa encontro alguns. Ora vejam. Ainda no prato, o gosto adocicado das migalhas dos scones a lembrar conversa amena sobre as peculiaridades da cidade visitada. Tenciono embrulhá-las discretamente no guardanapo de papel e levá-las comigo quando sair da pastelaria. Mal ponha os pés fora da porta, sacudo-as num dos canteiros em redor das árvores que servem de poiso a passaritos de gosto requintado. Sei que esvoaçam por ali à procura de petiscos. E o chá a abrir-se em águas irlandesas ao canto da fotografia, também vais partilhá-lo com essas criaturinhas de asas delicadas?, perguntará a curiosidade de quem observa a imagem com atenção. Bom, não me parece que apreciem esta bebida, tenho-as visto a molhar o bico nas poças do passeio. Além do mais, cada um tem os seus hábitos.
E mais gostos haveria mas não quero cansar-vos. Ah! Não resisto a uma última confidência, antes de me ir embora daqui: Gosto de gostar. A culpa é da língua portuguesa, é muito emotiva. 

M

5 comentários:

Rocha de Sousa disse...

Um belo sinal de um belo instante,
a água que escorre, a vontade de rever a Irlanda. Rever vendo

Justine disse...

Mais do que um retrato de uma cena da viagem que te emocionou, é o teu texto um retrato de ti, da tua maneira suave de ver e sentir!

Luisa disse...

É tão bom gostar de gostar, apreciar os pequenos momentos da vida e com eles sentir prazer!

Anónimo disse...

Finos e delicados gostos! Uma ternura.
Agrades

bettips disse...

Gosto dos reflexos e objectos que eram tão simples e que a tua delicada mente transformou em barco de maré, em maré de viagem.
Cogitações de viajante, no encontro de passos e traços.
(eu também gosto muito de gostar, perdidamente, como diz a nossa língua afirmativa das emoções, as reais, as imaginadas)