quinta-feira, dezembro 20, 2012

10. ~pi

Como há um requiem permanente na respiração primeira dos vivos, também há uma coreografia final na navegação dos barcos.
Os peixes recordam-nos vagamente, embora na sua visão profunda todos os barcos se lhes assemelhem: igualmente redondos, igualmente armadilhados, deslizando o seu tempo contado.

Os barcos ficam depois ali, agarrados ao cais, agitando o seu curto destino com suavidade: não sabem tecer outro gesto os barcos, senão de embalar.
E assim se tornam o berço das águas e depois se afogam, na memória última dum rasto, entre os andamentos que lhes dança o mar, onda após onda - até à última madrugada, serena e vidrada.
~pi

7 comentários:

Anónimo disse...

Boa imagem/palavra do afogamento do barco, carregando a sua história
e a sua idade.

Rocha de Sosa

mena maya disse...

abraçam-os as andas, uma a uma, antes do mergulho final.

Temos muito que aprender com os barcos...

Belo o teu requiem,~pi!

Justine disse...

O barco-berço...muito belo!

bettips disse...

Será berço de peixes depois de túmulo de ilusões
~~~ e as ondas
submersas.

Licínia Quitério disse...

Lindo, ~Pi! Quase dança, quase vida, quase morte, esta tua coreografia de palavra.
Boas Festas, -Pi.

Luisa disse...

Uma dança a que não escapa ninguém, nem nada.

do Zambujal disse...

Belo texto.
Diva(nave)gando...