quinta-feira, janeiro 10, 2013

13. Zambujal



Os muros são obra dos seres humanos. É preciso lembrá-lo, porque os seres humanos têm propensão para esquecer, e a História é escrita por/para aparentes vencedores que precisam, hoje, que assim – de uma certa maneira – tenha sido ontem.
E muitos são os muros! Embora à memória logo nos venha um que foi, e não se pergunta porquê mas se festeja ter deixado de ser. Porque assim se escreve a História. Que parece esquecer muros que ficaram. E são… muros que nos envergonham, como seres humanos que, pedra sobre pedra, os construímos e com eles convivemos. Lembro só três que não cairam mas que estão: o muro entre os Estados Unidos e o México, o muro da Cisjordânia, construído por Israel em torno e por dentro dos Territórios Palestinos Ocupados, o muro em Nicósia, que separa Nicósia de Nicósia, cipriotas de cipriotas, um verdadeiro arrepio para turistas de máquina fotográfica em punho para registo de viagens.
Haverá outros… Como os que protegem as videiras dos ventos e das lavas vulcânicas, e mais os que demarcam e escondem quintais e outros locais.
Miguel Torga disse que o universal é o local menos os muros e, já agora…, mais um muro outro, do imaginário, o que, nas suas aventuras tão maravilhosamente contadas por José Gomes Ferreira, o João Sem Medo saltou para sair de Chora-Que-Logo-Bebes e chegar à Floresta Branca, essa espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos.

Abaixo os muros. Não todos, mas quase todos.

Zambujal

10 comentários:

Anónimo disse...

Quer a fotografia quer um texto constituem, a meu ver, uma bela
reflexão sobre a realidade humana.

Rocha de Sousa

M. disse...

A universalidade dos muros nas mãos do ser humano. Um texto muito interessante e uma fotografia terrível a mostrar como são diferentes as posturas e os desejos do ser humano. Impressionante aquele friso de plantas encostado à parede de sacos. Quase como um abraço silencioso. Ou o abraço persistente perante o que parece irremediável.

agrades disse...

Um muro diferente dos que habitualmente vejo... Um muro arrepiante!

Licínia Quitério disse...

Sempre a beleza, a simplicidade, contra o negrume da opressão.

Luisa disse...

Tomára o tempo em que todos os muros sejam substituídos por flores.

Justine disse...

Belíssimo texto, Zambujal! A foto, vivida e sofrida a dois...

do Zambujal disse...

Muros... de flores.
Serem um abraço.
Muros à altura dos cotovelos para falar com os vizinhos.
De suporte de barragens.

Para o que isto dava... Poucas palavras háverá prolixas. Até porque cada um tem os seus muros internos e privados.

Foi uma "boa malha"!

mena maya disse...

Fez-me lembrar o Checkpoint Charlie aqui em Berlim.

Benó disse...

Há quem mate por causa de um muro. Este é bonito, deste lado, tem flores e um fundo verde, a cor da esperança.

bettips disse...

Porque o associei a Chipre, antes de ler o texto? Porque os muros das potências que os erguem são "alegremente" mostrados, na sua incrível fealdade e desumanidade. Dividem ideais, formas de progresso do ser humano. Muros-mentira-ódio.
Este é um muro entre vizinhos: e o humano deste lado tentará, na sua humildade de terra-e-plantas, torná-lo absurdo. Para quem do outro lado se debruçar numa janela.
Muito bom, o que nos mostras e o que nos dizes!