quinta-feira, outubro 17, 2013

6. Licínia

Já sete vezes abertos, 
Já sete vezes fechados, 
Os sete cofres da vida. 

As sete chaves rodadas, 
A guardar sete segredos, 
A calar sete verdades, 
A esconder sete pecados. 

Eram brilhantes as chaves, 
Eram esperançadas as vidas, 
Eram valentes os cofres 
Que as sete chaves abriram, 
Que as sete chaves fecharam. 

Tantas vezes, mais que sete, 
Os segredos se evolaram, 
As verdades se negaram, 
Os pecados se apagaram.

E as chaves enferrujaram, 
Os cofres se esvaziaram, 
E as vidas continuaram.

Novas chaves se inventaram, 
Palavras-chave nasceram, 
Invisíveis, impalpáveis, 
Tão seguras, tão secretas 
Como as chaves que brilharam 
E um dia se desfizeram. 

Sete chaves, sete vidas, 
Sete cofres que souberam 
De sete amores que chegaram, 
De sete dores que partiram. 

Palavra a puxar palavra, 
Assim a estória contada
De um molho de velhas chaves 
Guardadas no nosso olhar. 

 Licínia

6 comentários:

M. disse...

Como uma lengalenga contada a meninos. Imagino-os em volta do contador de histórias, suspensos na estória das sete chaves.

bettips disse...

Sete anos vezes 2, vezes 3...
"para tão longo amor, tão curta a vida"
Gostei das sete chaves-adivinhas, dos sete segredos-(salva)guardados, da transgressão de alguns pecados-capitais, das esperanças-velas de navio ao longe. Com (alguma) moderação eh eh eh... a luxúria, a preguiça, a gula e, convenhamos, a soberba, são uns pecadilhos agradáveis. Especialmente agora que os reformados são imagem de velhos a jogar cartas na Estrela!

Luisa disse...

Belo poema!

Justine disse...

Brilhante, Licínia!

Benó disse...

Ficaram mais completos os comentários com a graça do teu poema.

jawaa disse...

Com a repetição do número mágico em versos a lembrar o Romanceiro, tornaste encantadas as chaves da Betipps, Licínia!