quinta-feira, julho 31, 2014

6. Zambujal

«… Agora é o coração que se constrange. Vivi aqui e ali. Uma, duas, três casas que abrigaram o adolescente e parecem olhar o homem maduro com olhos cegos, janelas ocas… Tudo isso do sonho e da saudade é uma mentira arranjada, um embuste literário, ou o quê?...»
Perante a fotografia sobre estas palavras antecipo as reticências do texto de Nemésio e atrevo-me a corrigir – meu sonho, saudade, pretexto literário – que este homem já bem mais que maduro olha e fotografa, com olhos húmidos, a janela por onde entra o sol poente a dar luz e vida ao quarto onde, há 116 anos (a 21 de Janeiro de 1898), nasceu o pai.
E regresso ao autor das palavras justas e às reticências mais abaixo: «… A maior parte das coisas do mundo interior que levamos são dessa qualidade intransferível: têm essa só realidade unilateral, mesmo quando empenham dois lados, como por exemplo o amor.» 

Zambujal

2 comentários:

bettips disse...

Mas a ti festejam-te as janelas e as pequenas ervas. Porque soubeste guardar e tocar, com dedos e palavras, a memória.
Um lugar de transparência e transferência do passado. Belo.

Justine disse...

Uma casa cheia!