quarta-feira, março 18, 2015

5. Licínia

As Glicínias. De pequena aprendi a conhecê-las pelo nome, já que por menos um “g” fui chamada. No jardim grande da minha terra, o senhor “Le Nôtre”, que se chamava Marques, e usava as mangas da camisa arregaçadas, o peito à vela e um chapéu preto sempre na cabeça, o magnífico jardineiro ensinava à minha mãe os nomes das flores e as suas preferências de trato, saberes que ela procurava reproduzir no nosso pequeno quintal. Das glicínias, que o senhor Marques tão bem cuidava, além do nome fixei o odor doce exalado pelos enormes cachos azul-lilás pendentes dos grossos, idosos, torcidos caules. Ainda hoje, quando passo por glicínias em flor, me parece ver, na sua sombra, o chapéu preto que o senhor Marques fazia descair para trás, com um piparote na pequena aba, a arejar o suor da testa, da sua testa de jardineiro-chefe que me ensinou a conhecer glicínias. 
Licínia

1 comentário:

Justine disse...

Os aromas que nos fazem voltar à infância: o aroma da terra molhada, o aroma do pão quente, o aroma de uma rosa ou de uma glicínia...