quarta-feira, junho 20, 2018

6. M.

Observando a imagem, que me lembra o cenário preparado para uma peça de teatro ao ar livre, vejo duas cadeiras iguais partilhando uma pedra de cor clara. A terceira cadeira é diferente, talvez mais ágil, sem braços a sugerir confortos, e tem uma pedra cinzenta aos seus pés, o que me leva a pensar que está ali de reserva, just in case, o olhar de soslaio pousado sobre a pedra à sua direita, essa sem companhia. Talvez valha a pena entabularem conversa, nunca se sabe que entendimentos daí possam surgir. Possuem alguns traços físicos em comum, carnação escura, arestas vincadas, tamanhos idênticos. O seu íntimo desconhecemos, só pegando em cada uma seremos capazes de lhes avaliar o peso. Até arrisco dizer o peso das ideias. Tenham as pedras ideias ou não, quem lhes pegou e as colocou ali tem-as. A quarta pedra, escondida entre a relva, recordou-me o “Ponto” dos teatros antigos, metido dentro de um buraco no palco ou numa caixa com abertura virada para os actores em cena, a narrar em voz baixa as falas quando eles se esqueciam dos textos. Alçapão parece haver um, oculto sob uma tampa verde... Ah e o título da peça podia ser A Natureza das Coisas. Ora, deixa-te de fantasias, trata-se apenas de um espaço aberto em que elementos diversos marcam presença.
M

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