ANIVERSÁRIO
Metade do tempo consumada
ou ainda mais.
No peito, a mesma fome, a mesma sede
do menino, do rapaz.
O mesmo olhar perplexo
o mesmo
sem resposta
gesto crispado interrogando.
(É dezembro
e noite e abro a janela
e vejo outras janelas iluminadas.
Ali há vida, como na rua, como
no campo, e no mar e nos velozes
aparelhos que cortam o espaço
e
talvez
noutros planetas e universos.
Como há incontáveis séculos e
provavelmente
amanhã. Mas tudo rápido
demais
que nem nos podemos saber
e partimos
no mesmo escuro em que chegamos.)
Perdi colegas, namoradas, cães.
Perdi árvores, pássaros, perdi um rio
e eu mesmo nele me banhando.
Isto o que ganhei: essas perdas. Isto
o que ficou: esse tesouro
de ausências.
(A noite avança, e as janelas
aos poucos
se apagam. No silêncio
meu coração permanece
iluminado. Eis que trabalha, fiel,
mesmo quando revela
a si mesmo em breve imóvel
ou, depois, a última estrela
sem testemunhas
no céu final.)
RUY ESPINHEIRA FILHO
(Brasil, n. 1942)Metade do tempo consumada
ou ainda mais.
No peito, a mesma fome, a mesma sede
do menino, do rapaz.
O mesmo olhar perplexo
o mesmo
sem resposta
gesto crispado interrogando.
(É dezembro
e noite e abro a janela
e vejo outras janelas iluminadas.
Ali há vida, como na rua, como
no campo, e no mar e nos velozes
aparelhos que cortam o espaço
e
talvez
noutros planetas e universos.
Como há incontáveis séculos e
provavelmente
amanhã. Mas tudo rápido
demais
que nem nos podemos saber
e partimos
no mesmo escuro em que chegamos.)
Perdi colegas, namoradas, cães.
Perdi árvores, pássaros, perdi um rio
e eu mesmo nele me banhando.
Isto o que ganhei: essas perdas. Isto
o que ficou: esse tesouro
de ausências.
(A noite avança, e as janelas
aos poucos
se apagam. No silêncio
meu coração permanece
iluminado. Eis que trabalha, fiel,
mesmo quando revela
a si mesmo em breve imóvel
ou, depois, a última estrela
sem testemunhas
no céu final.)
RUY ESPINHEIRA FILHO
Com autorização de Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/
http://cristalina.multiply.com/
A seguir à ternura da fotografia, a ternura das palavras dos barcos, ao longe. É lindo que nos pensem e nos afaguem assim. Acompanha... Bjinho
ResponderEliminar...um tesouro de ausências.
ResponderEliminarHoje somos o guardião, amanhã faremos parte dele...
Um abraço
Um grd beijo, para ti, m.
ResponderEliminar"Mas tudo rápido
ResponderEliminardemais
que nem nos podemos saber... "
e chegados aqui
não queremos partir;
jamais*.
* Apenas pretendi dar um tom mais optimista à "zona menos iluminada" do poema. Que é belo.
beijinho m.
Lindo!
ResponderEliminarTambém fico sempre à espera da última estrela no céu...
Beijo, Manuela!
Um poema lindíssimo. Um balanço de vida. Um beijo grande para ti.
ResponderEliminarBelo poema!... Deixa que no silêncio o teu coração permaneça iluminado!...
ResponderEliminarUm beijo!
uma excelente galeria de rostos, que eu perdi. o poema? muito belo!...
ResponderEliminarUm belo poema, de facto.
ResponderEliminarAniversário uma estrela feliz?!...
ResponderEliminarFeliz escolha poética; iluminada!