Dia 24 - Fotografando as palavras de outros sobre este excerto belíssimo de uma crónica de António Lobo Antunes (Adoro as crónicas dele.)
O cheiro das ondas no instante
em que o ar é mais frio do que a água
«Normalmente é no terceiro minuto a partir do crepúsculo que o ar da praia é mais frio do que a água. Não no segundo nem no quarto: no terceiro e durante onze segundos, o que requer discernimento, atenção e paciência. O melhor é encostarmo-nos à muralha, de queixo na palma, vigiar as gaivotas, dar fé da mudança de cor no horizonte e nisto, mal o terceiro minuto começa, tira-se a palma do queixo para que o ar poise nela e aí está: pega-se no ar da praia, mete-se no bolso e leva-se para casa sem deixar entornar. Tem de utilizar-se logo visto que no dia seguinte, a partir das dez, já o ar aqueceu. Puxa-se com cuidado do bolso e respira-se devagarinho. Quase sempre, então, os pinheiros estremecem e parece existir, nas mulheres da família, uma espécie de vontade de chorar. Não de tristeza, claro: do facto de existir para sempre, dentro delas, um búzio comovido.»
in Segundo Livro de Crónicas, António Lobo Antunes, Publicações Dom Quixote, Outubro de 2002
Precioso momento descrito belamente por A. Lobo Antunes.
ResponderEliminarE de escolha difícil, se não quisermos ser redutores e desejarmos abranger todo o cambiante de sentimentos aqui desfiado à beira mar - e logo trazido para "o lar" primordial: a mulher!
Isto acima é meu: bettips.
ResponderEliminarAbçs