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quinta-feira, fevereiro 21, 2013

4. Jawaa

Um antiquário é um lugar de culto. É uma catedral antiga, daquelas onde repousam os mortos pela Idade Média, as inscrições dos túmulos apagadas pelo deslizar dos passos ao longo da nave. Os objectos amontoam-se lado a lado, unidos pelas memórias mais perenes de quem um dia os exaltou, votados agora ao abandono à solidão ao esquecimento. Gritam ainda a sua nobreza, o brilho, o esplendor antigo, contam em silêncio as viagens os sonhos as venturas, marcam épocas, sugerem intimidades. 
Os objectos de arte herdam-se, não se compram, dita a altivez da boa linhagem, mas é a esperança que lhes resta, o resgate pelo poder da moeda. 

Jawaa

6 comentários:

  1. Pois, o pior é quando ninguém os quer. É que cada um gosta de ter o seu esplendor muito seu, pelo que...

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  2. E quem lhes dará o valor que já tiveram?

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  3. É muito interessante a sua perce-
    pção porque a fotografia do molhe
    de objectos não regista antiguida-
    des: «são rosas, senhor», diria alguém há muito tempo. Todo esta
    balbúrdia, em armazém, cria a ideia
    de preciosiades entre recorrências.
    Mas são objectos oriundos dos anos
    50 até há pouco e esperam uma venda
    que só algum revivalismo surpre-
    endente pode fazer acontecer.

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  4. Um lugar de culto, bem o dizes Jawaa, culto da memória; e com melindre devemos olhar as memórias de outros, nunca o poder da moeda as poderão corromper. Por isso acho belo quando são doadas ou emprestadas "coisas" a museus para fruição de todos.

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  5. Os objectos, assim abandonados, perdem sentido. Só nós, ao adquiri-los ou ao sonhá-los, lhes conferimos de novo um sentido...

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  6. Também a compra lhes pode restituir afectos. Haja alguém que saiba para que pode servir o dinheiro.

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