CÃO
Cão passageiro, cão estrito,
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado,
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão além, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal da poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção, cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema…
Sai depressa, ó cão, deste poema!
Alexandre O’Neill
Licínia
Uma poesia bem escolhida
ResponderEliminarLuisa
Não sabia que os cães também cruzam as patas, acha piada a esta "pose"
ResponderEliminarOs cães cruzam muito as patinhas, Mónica. Ficam o máximo.
ResponderEliminarGosto principalemnte de onde se deitou: pedra preta, quentinha!
Pouco espertos, são!
Um poema elucidativo das diversas personalidades dos cães e do bicho homem. Interessante escolha.
ResponderEliminarMuito giro, uma lenga-lenga bem acutilante. Desconhecia este poema de O´Neill.
ResponderEliminarQue encanto, esse hino aos cães! E ainda bem que o cão não saiu do poema...
ResponderEliminarparece estar deliciado a ouvir-te, Licínia!
ResponderEliminarO grande humor deste poeta.
ResponderEliminarTeresa