A miúda passava todos os dias, à mesma hora, defronte do café dos velhos que a seguiam com olhos saudosos de juventude. A miúda não reparava neles, ia sempre apressada, segura de querer chegar onde a esperavam. Foi assim até ao dia em que a atenção dela foi tocada por um baque surdo e uma vozearia de aflição. Virou-se, deu uns passos atrás, perguntou, precisa de ajuda. Ajude-me a levantar, menina, estes velhos não conseguem. Ela sorriu, abraçou-o pelas costas e ergueu-o. Estava pálido, ela só se foi embora quando o viu sentado e a beber um copo de água. Os outros velhos diziam frases desgarradas, que coisa, tu vê lá, estás bem, ó pá atiraste-te para o chão para a miúda te agarrar, cala essa boca.
Entre dois golos, ele só disse, baixinho, para ela não ouvir, é tão bonita.
Licínia
Que bela prosa poética!
ResponderEliminarNa velhice também se sonha.
ResponderEliminarAfinal, todos com saudade da mocidade
ResponderEliminarLuisa
Afinal estavam todos com saudade da mocidade perdida
ResponderEliminarLuisa
Enternecedor, o teu texto, Licínia! E nostálgico...
ResponderEliminarUm texto de uma ternura imensa, assim o sinto.
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