Eles passeiam-se nos parques imitando os gatos. Deslizando, com elegância e sem pressas. Apurando os sentidos, a reconhecer o território. Afagam o tronco de uma árvore, olham a copa e, se fosse da sua natureza, trepariam e ficariam muito serenos, deitados no garfo de dois ramos jovens. Esmagam nos dedos uma folha de lúcia-lima e cheiram-na, aspiram-na, com sensualidade disfarçada. Pontapeiam uma pinha caída no saibro do caminho, para depois, mais adiante, a apanharem e a arremessarem. Como um gato faz com um novelo. São solitários. Evitam cruzar-se com outros exploradores. Procuram tomar caminhos diversos. Debruçam-se nos lagos, molham as pontas dos dedos e não as enxugam. Às vezes passam-nas no rosto. Espiam os pássaros, detêm-se, para não os assustarem.
Os gatos, esses, aparecem de noite. É o seu tempo dos parques. Dos mistérios dos parques só os gatos sabem. Nunca os revelarão. Eles sabem disso, mas continuarão a deslizar nos parques, imitando os gatos. Na esperança de um dia saberem ler o que eles trazem inscrito nas pupilas.
Licínia

O Jardim do Cerco em Mafra pelos teus olhos. Um lugar especial, sem dúvida, com "cheiro" e carisma de um tempo antigo de que se gosta.
ResponderEliminarBela discrição dum parque encantado
ResponderEliminarLuisa
Conheci-o muito tarde da vida, é um encanto. Tudo.
ResponderEliminarAqui passei sorrateira como um gato e os seus segredos. Aqui encontrei a (tua)descrição feliz dessa solidão de árvores e recantos.
Texto muito belo e misterioso. Um excelente passeio!
ResponderEliminarEstive lá há quantos anos já nem bem sei, com os meus pais e irmãos, tenho que revisitar.
ResponderEliminarFoi um prazer deslizar neste teu belo texto, Licìnia!
ResponderEliminarBonita foto e texto.
ResponderEliminarTeresa
Não percebo "eles" quem? Pessoas?
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