Tinha
«Tinha chegado meia hora antes à cidadezinha do sul, descera durante a madrugada do "comboio correio", tomara a carrinha do Chico Loulé, que fazia a ligação entre a gare ferroviária e o velho burgo situado a dois quilómetros, subindo contra o frio as ruas da memória medieval e acabando por parar diante da casinha tantas vezes revisitada, do tempo em que estudava em Lisboa, outras horas, outras idades, a família ainda viva a receber-me com grande alarido. Desta vez, mais uma vez, voltava para umas férias curtas e olhava a janela do lado direito da casa, arranjada até ao limite do possível, pintada e conservada com algum desvelo, com os mesmos materiais de há 75 anos. Antes de me adiantar para a porta, pensava com melancolia no desinteresse do país e dos proprietários pela conservação de pequenos e grandes patrimónios que tanto caracterizam o rosto identitário das povoações, do país inteiro. Sem essas referências e símbolos, deixámo-nos colonizar em demasia e sepultamos o que de melhor, a vários níveis, tinha a nossa história e a nossa cultura.»
Rocha
de Sousa
Antes o passado do que a doença...
ResponderEliminarA conservação da memória sem a qual não há futuro. Tão airosa a janela!
ResponderEliminarUm texto muito belo de memórias. E também uma reflexão importante sobre o esquecimento e como ele corrói a existência humana na sua pressa de viver ignorando a vida de uma época anterior.
ResponderEliminarUma bonita janela, bem pintada ou caiada.
ResponderEliminarUma bela janelinha,que me fez lembrar o jogo dos cordéis que fazíamos com os dedos,tirando com jeitinho das mãos uns dos outros,formando sempre novas figuras...
ResponderEliminarTexto em tons melancólicos e serenos, tal como serena é a imagem da janela, que nos remete para tempos passados...
ResponderEliminarA falta de dinheiro é muita vez a causa de não se conservar o património
ResponderEliminarUm bocadinho de sol preso na janela, esperando soltar-se das grades, viajando na memória.
ResponderEliminarO texto, assertivo, lembra-nos que desaparecendo estes símbolos antigos, desaparecem bocados do que fomos.