Páginas

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

7. Margarida


 

S.Brás?

Difícil aliar algo a este nome.

Lembrei-me do Bacalhau à Brás mas também de S.Brás de Alportel.

Mas o Sr.Brás soou mais forte.

Tinha 93 anos quando o conheci, em 1993. Agora já não deve ter anos.

Era um antigo mestre baleeiro, de barba longa, rugas marcadas pelo sol e pelo sal.

Tinha um jeito de mãos único e construía botes baleeiros, em madeira leve, à escala.

Fez-me este num mês, por encomenda, ao seu gosto.

Conservo-o desde então e adoro-o.

O detalhe da palamenta, os remos, o leme, as velas: um triângulo à proa, um trapézio à popa.

E até o arpão tem barbilha de marfim.

O Sr.Brás amava o que fazia e isso fazia dele um homem feliz. E jovem.

O meu bote baleeiro está desgastado, já o remendei, já o lavei, já o cosi, já substituí peças.

Mas não o largo.

Foi-me feito pelo Sr.Brás e acompanha-me em qualquer casa onde viva.

Margarida

5 comentários:

  1. Uma história linda, uma peça delicada, de perpétua recordação. Há objectos assim, que trazem sentimentos de gestos dentro e os transportam através dos anos.

    ResponderEliminar
  2. Anónimo4/2/22

    E é bem bonito
    Luisa

    ResponderEliminar
  3. Que bonita história. Não aprecio estas delicadezas, acumulam pó :)))

    ResponderEliminar
  4. Um artista a respeitar, esse Sr. Brás

    ResponderEliminar
  5. Sim, Justine, a respeitar, que artista deve ter sido.

    ResponderEliminar