segunda-feira, agosto 27, 2007

quarta-feira, agosto 22, 2007

O Pensador Quioco


Foto de M

OS QUIOCOS NA LUNDA

O Povo QUIOCO, guerreiro e nómada por excelência desde as suas origens, fixou-se (pouco antes da chegada dos europeus, em fins do século passado) no Nordeste de Angola, Distrito da Lunda, e também em pequenos núcleos espalhados até quase ao Sul, como se pode observar melhor no mapa anexo.

Na generalidade, homens de pequena estatura, vivos e atentos ao meio que os envolvia, dava gosto lidar com eles.

Os mais evoluídos aderiram um tanto aos usos a costumes europeus - nomeadamente no vestir dos homens e na religião predominante; porém, mantiveram-se ligados, simultaneamente a tudo quanto respeita a sua ancestralidade: religiosidade mítica, danças, música, canções, lendas, habitações e locais de práticas sociais (assembleias para conciliábulos venerandos homens, etc.) fornos para obtenção de ferro, argila para fabrico de utensílios caseiros e ainda outros que adiante se indicará.

Grande número de quiocos tinha excepcionais qualidades artísticas, que iam desde a pintura ("naif') das paredes argilosas das suas casas, até ao artesanato em madeira de máscaras para usos religiosos e de danças, fetiches (= totens), estatuetas de figuras reais e imaginárias como também objectos (pentes e colheres ornamentadas) ou que a sua criatividade concebia.

As mulheres dedicavam-se mais aos trabalhos de campo (cultivo e recolha de lenha , mandioca e frutos) moagem de fuba (farinha para bolas de pirao e fritos espalmados), em almofarizes de fundo alto; enquanto que os homens iam à pesca e à caça, além da difícil apanha de dendem (fruto das palmeiras para obtenção de óleo alimentar).

Todavia, as danças eram integradas por ambos os sexos, embora em grupos separados.

Mas já o mesmo não sucedia com a música, só executada por homens, servindo-se de tambores a xilofones de vários tamanhos, de inventiva muito peculiar.

Os quiocos criaram lindas e melodiosas músicas e canções, com letras muito singelas, estando a maior parte (1200) registadas em disco, nas suas próprias aldeias, da forma mais genuína, trabalho executado com todo o carinho por funcionários altamente especializados da Companhia de Diamantes de Angola.

Isto passava-se nos anos 60 do século actual, dado o mecenato magnânimo daquela Companhia, que chegou ao extremo de criar (1947) um vasto Museu, inteiramente dedicado ao Povo Quioco, onde aí se recolheu tudo quanto dissesse respeito a esta gente. Exemplo único em Angola, sem paralelo em toda a Vida.

A Cultura universal muito deve a este Museu - hoje tão pouco conhecido, ao que se crê, tão espoliado.

Foi nas duas ou três décadas anteriores aos anos 60 (de 1936 a 47), que alguns europeus dedicaram grande parte do seu labor a recolha de elementos de toda a espécie sobre este Povo; e daí teve origem a feitura de livros e de pequenos folhetos - hoje extremamente raros para quem os queira obter, mas existentes nas bibliotecas de numerosos Museus de todo o mundo, graças ao cuidado que houve na altura pela sua divulgação entre as instituições interessadas.

Referindo em síntese os principais sectores da Arte Quioca, podem destacar-se as seguintes:

ESCULTURA EM MADEIRA -Com madeiras macias da parte central troncos, utilizando pequenos sachos e canivetes, os inspirados quiocos esculpiram esculturas das mais variadas espécies, consideradas por grandes especialistas como sendo as mais-de toda a África. Pouco conhecidas , podem ainda ver-se algumas no Museu Etnográfico (Lisboa), na Sociedade de Geografia e no Museu de Elvas, como também em colecções particulares de quem andou pelo Nordeste de Angola. A arte destas estatuetas é de tal forma expressiva e viva que levou a adquirir grande número de peças mesmo por parte daqueles que nada têm a ver com interesses culturais.

MÚSICA E DANÇA -A música que criaram, bem diferenciada da dos outros povos, de melodiosa e ritmada expressão, dentro dos cânones africanos, deu azo a danças originais, do melhor folclore no género, para circunstâncias bem definidas: actos religiosos, festividades, evocações guerreiras e de caça, etc. ; mostrando ao mesmo tempo trajos garridos, bem diferentes segundo os motivos a que se destinavam e até em relação às classes etárias dos participantes. Os guerreiros, com as suas lazarinas (= espingardas), disparavam estrondosamente essas suas armas, num "colorido" africano de grande visualidade.

PAREDES PINTADAS - As paredes exteriores das suas cubatas e as interiores, ao fundo da porta de entrada, eram decoradas com belas pinturas "naif' - figurando caçadas, agricultura e até flores - em cores vermelhas, brancas, ocres e castanhos, extraídas de cascas de árvores, dissolvidas em cal. Estas pinturas eram frequentemente substituídas por outras, dado que a acção das chuvas tropicais diluíam as anteriores, face à precariedade dos materiais empregues.

CERÂMICA - Com argila da região, fabricavam as louças de que necessitavam para uso doméstico e, num caso ou noutro, objectos de decoração. Todas elas ornamentadas com curiosos desenhos geométricos, cavados nesses objectos.

INSTRUME NTOS DE CAÇA E PESCA - Com ferro e cobre obtidos em fornos da sua invenção, ligados a ritos da criação humana - semelhantes a parturientes, qualquer mãe que dá à luz um filho - fabricavam canivetes, facas, catanas, anzóis e armas de fogo rudimentares, de grande beleza ornamental. O "cesto-armadilha" era o instrumento essencial para a pesca nos rios.

DIVERSOS - São autênticas obras de arte os penteados das mulheres quiocas, nos quais utilizam argilas vermelhas e gorduras vegetais. Um europeu que por lá andou largos anos, tirou centenas de fotografias a esses penteados, que naturalmente o atraíam. Onde parará hoje essa colecção, não se sabe. Seria um precioso elemento de estudo. Outra faceta artística, mas esta de cariz social, é a dos chamados feiticeiros, com as suas mezinhas vegetais e animais, e certo pendor de adivinhação. Esses homens respeitados por todo o povo das redondezas, eram os únicos "médicos" que existiam antes da montagem dos modernos hospitais europeus... que até iam pelas aldeias recolher em ambulâncias as parturientes.

Como antes foi dito, existia o Museu do Povo Quioco - tal como em Paris há o Museu do Homem - onde foram recolhidos e conservados objectos de toda a espécie, vestuário e pinturas (cerca de 12 000 peças). Uma maravilhosa Obra, que deliciava quem a contemplasse. A esse vasto edifício estava agregada uma aldeia primitiva, com toda a espécie de "moradias" utilizadas pelos quiocos na sua vivência comum e um Terreiro de Folclore, onde aí tocavam e dançavam, como sempre haviam feito desde recuados tempos, em genuíno primitivismo - dado que tudo isso foi feito por eles próprios e com amor , sentindo-se no seu ambiente, pois nem a floresta próxima lhes faltava.

Só o que raros europeus conseguiram observar, já que se tratava de culto secreto, foi o período de Iniciação dos jovens, "mucanda", nas acções de circuncisão, na sua forma mais rude e violenta, acompanhada dos "ensinamentos" para a vida futura daqueles rapazes. Os que subsistiam a tais "violências", dificilmente adoeciam na adolescência e quando homens. Era um longo período de Iniciação, que fortalecia a carne e o espírito e já vinha dos tempos em que esta gente nómada era, acima de tudo, constituída por guerreiros viris e caçadores ardilosos. Porém, quando o sedentarismo se impôs, a nova vida modificou-os, no sentido habitual a todos os povos de todas as latitudes.

O que conhece a respeito dos Quiocos, quanto à sua origem, crenças e lendas, foi registado pelos europeus à volta dos anos 60, através de diálogos com os anciãos e por recolha do pouco que então restava dos seus objectos de uso primitivo e construções em decadência. Algo de importante se pode ainda colher no estudo que se segue e nos livros citados na Bibliografia final…

Texto de Fausto Moreira Rato, retirado da net, e que me foi dado a conhecer por uma amiga.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Reflexões Caseiras 20

Paredes brancas ao canto da rua, sombras de silêncio tocando a luz do momento. Paisagem traçada nas cores da fantasia. Ali se senta a sede que escorre nos dias empilhados de solidões. Mesas sem migalhas onde não poisam pássaros de bicos abertos. O amplo abraço de um chapéu-de-sol sobre o nada que podia ser tudo: um pouco de consolo à beira do caminho.
M

Foto de M

quarta-feira, agosto 15, 2007

Reflexões Caseiras 19


Foi difícil retê-los na minha máquina fotográfica: passavam em bando diante dos meus olhos. Para lá, para cá, outra vez para lá, de novo para cá, no rasto do tempo que se gasta… Quase um jogo de esconde-esconde. Quase um riso imaginado. Pássaros-meninos desafiando-me? Duvido que dessem por mim na meia-luz da janela. Eu vivia o meu silêncio, eles piavam, batendo as asas negras num voo de pressas. Talvez procurassem o anoitecer, um adeus a mais um dia abandonado à beira-mar. Entre algas e conchas. E rendas de espuma em lençóis de areia. E rochas escorregadias cobertas de mantas verdes tocadas por pezinhos de crianças. O mundo a seus pés, a alegria dentro dos seus corações. Meninos-pássaros.
Mas para quê, diante da minha janela, aquele corrupio em busca do entardecer? Não tem o sol o seu ritmo muito próprio de se esbater no mar da vida arrastando com ele o nosso olhar temporariamente forrado de dourado?
M

Foto de M.