domingo, abril 30, 2006

Excertos de "Sábado", de Ian McEwan

«… Está à janela do meio, abre as portadas de madeira com cuidado para não acordar Rosalind…»

«… Lembra-se de ter feito aquele mesmo trajecto de noite e, ao abrir as mesmas portadas, quase recupera a sua loucura, já meio perdida na sua memória, mas que é instantaneamente dissipada pelo jorro de luz do Sol baixo de Inverno que entra no quarto e pelo seu súbito interesse pelo que está a acontecer na praça.»

«… As pessoas vêm muitas vezes à praça dar largas aos seus dramas. É óbvio que uma rua não chega. As paixões precisam de espaço, da vastidão atenta de um teatro. A outra escala, pensa Perowne, arrastado agora pela luz do Sol e por um novo dia para a sua preocupação habitual, talvez seja esta a atracção do deserto iraquiano − a paisagem plana e supostamente vazia na qual é possível dar largas a uma fúria de proporções gigantescas. Dizem que um deserto é o sonho de um estratego militar. A praça de uma cidade é o equivalente numa dimensão privada….»


Excertos de Sábado, Ian McEwan. Gradiva.

3 comentários:

por um fio disse...

Ah muito giros estes excertos!
E sobretudo esta imagem « As pessoas vêm muitas vezes à praça dar largas aos seus dramas. É óbvio que uma rua não chega. As paixões precisam de espaço, da vastidão atenta de um teatro. »
Magnífico!

Mónica disse...

uma praça é muito pouco! há quem precise da blogesfera!
:-))

Anónimo disse...

semcantingas:
... Mas a solidão às vezes é tão grande que as pessoas se iludem facilmente... Por acaso é impressionante observar o que por aí vai neste mundo em que todos nos procuramos a nós mesmos e aos outros. Muitas vezes tenho pensado que temos a preocupação de ajudar as crianças a fazer uma socialização e depois constatamos que em muitos casos isso acaba por ser uma desilusão. O que é que afinal está na natureza humana? Tantas perguntas, tantos os casos diferentes, tantas as histórias e as particularidades... Mas que muita coisa tem a ver com a infância, lá isso tem.