... em casa dos meus pais, usava-se este arrendado para bater nos tapetes. Não me recordo com que frequência, mas havia lá em casa quem os debruçasse nas varandas das traseiras a umas determinadas horas permitidas pela fiscalização camarária e lhes batesse com fúria. Imaginem, bater-lhes, depois de os pôr à janela a apanhar ar e de lhes proporcionar vistas mais desafogadas que as dos sapatos e as das mesas e cadeiras! Adivinho-lhes o espanto. Mas a causa, afinal, era boa: aliviá-los do peso leve do pó. Uma prevenção contra alergias à limpeza doméstica, também: as do tapete (talvez, quem sabe) e as dos vários moradores da casa (de certeza, sei eu).
Agora, existirá ainda gente que usa este objecto, penso eu. Gente com força nos braços e nas mãos, pois que ela é precisa, se bem me lembro. Ou seria a minha força de menina que era demasiado frágil? Não sei. Este comprei-o eu novinho em folha (em renda, dir-se-á com mais propriedade) porque achei que essa memória merecia ser pendurada na parede. Para eu continuar a segurar nos ouvidos aquele som cavo que ecoava sobre a rua e rever as nuvens cinzentas que se soltavam dos tapetes e voavam em direcções para mim desconhecidas, a desfazerem-se pelo caminho.
M
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