Uma
espécie de osteoporose no corpo da História. À semelhança dos
nossos corpos de gente anquilosada descrente dos desempenhos de
articulações e rendilhados ocultos dentro desta enorme complexidade
que nos habita. Desconfortos. Parafusos e barras de titânio a
segurarem-nos, a manterem-nos de pé, recompondo as nossas vidas,
cicatrizes assinalando as nossas histórias muito particulares.
Valem-nos os ortopedistas. E os arqueólogos. E os antropólogos. E
os sociólogos. E os historiadores. E os cientistas. Todos eles
ávidos de entendimento do universo, à procura do que nos explica e
explica a vida nas suas semelhanças e diferenças ao longo dos
séculos. E os artesãos. Sem pressas, o perfeccionismo guiando o
ritmo de cada gesto, a imaginação em permanente viagem entre o
real e o simbólico, entre o todo e o detalhe que as suas mãos são
capazes de imprimir nas pedras de todos os tempos, talvez eles
sejam... Sim, talvez eles sejam presenças especiais onde encontramos
conforto perante a dolorosa consciência da fragilidade do mundo
terreno. Porque, ao deixarem tantas vezes a sua marca de criatividade
sublime na arte que fazem, exprimem o desejo de Beleza imensa sentido
pelo ser humano e assim a imortalizam. Apesar das ruínas e por causa
delas.
M
5 comentários:
Homem e criação artística do homem - tudo ligado pelas mesmas necessidades e pelas mesmas dores...e pelo mesmo desejo de eternidade!
A primeira frase diz tudo e é
testemunho da arte, do tempo e
do sentido da história. Belíssimo
texto.
Imaginei o teu texto um novelo que fui desenrolando palavra por palavra para melhor o apreciar.
PS.A mim tem-me valido o osteopata:-)
Fizeste-me lembrar, com essa dos artesãos, o "Memorial do Convento". É sublime pensar neles, no sofrimento, no trabalho, na arte, na paciência, na escravatura. E na dádiva de Beleza que todos nos deixaram.
Belo e lúcido (ou belo por lúcido?) texto.
As colunas e as suas próteses...
Enviar um comentário