quinta-feira, novembro 29, 2012
AGENDA PARA DEZEMBRO DE 2012
Dia
6 - Ao
jeito de cartilha: Proponho-vos
que usemos a sílaba “me”
para formar as nossas palavras. Poderá ser colocada no início, no
meio ou no fim da palavra que escolhermos. E não se esqueçam da
fotografia.
Dia
13 - Reticências
com
a frase “Que
dizer dos espelhos”
a iniciar o texto.
Dia
20 - Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia
de Mena.
Dia
27 - Fotografando
as palavras de outros sobre
o poema
de
Eugénio
de Andrade
AQUELA
NUVEM
-
É tão bom ser nuvem
ter
um corpo leve,
e
passar, passar.
-
Leva-me contigo.
Quero
ver Granada.
Quero
ver o mar.
-
Granada é longe,
o
mar é distante,
não
podes voar.
-
Para que te serve
ser
nuvem, se não
me
podes levar?
-
Serve para te ver.
E
passar, passar.
Aquela
Nuvem e Outras
Vinte
e duas canções para crianças (voz e piano)
Eugénio
de Andrade e Fernando Lopes-Graça
Fundação
Casa da Música, Porto
SEM QUERER...
desviar a atenção do poema de Emanuel Félix que nos inspirou no desafio Fotografando as palavras de outros, mas achando que tem de certo modo a ver com ele, partilho convosco um momento interessante em que, indo eu tomar um chá na geladaria de uma amiga minha, reparei que no exterior da chávena estava impresso o primeiro texto abaixo. Achei-o lindíssimo e escrevi-o no guardanapo de papel. Noutra ocasião voltei lá e apareceu-me outra inscrição na chávena desse dia. Decidi então espreitar todas as chávenas que a minha amiga lá tem e copiei todos os textos que encontrei. Ela disse-me que a marca de chá Dilmah costumava oferecer umas tantas chávenas por cada encomenda feita. Uma ideia muito bonita, sem dúvida.
(Este senhor de quem nunca tinha ouvido falar provocou-me uma particular curiosidade e fui à net procurar informação)
1. «The first bowl soothes the throat, while the second banishes loneliness. At the third bowl, I search my soul and find 5.000 volumes of ancient poems. With the fourth bowl, a slight perspiration washes away all unhappy things. At the fifth bowl, my bones and muscles are cleansed. With the sixth bowl, I am in communication with the immortal spirit. The seventh bowl? It is forbidden: already a cool ethereal breeze begins to soothe my whole body.»
An
early Chinese Poet
2. «There
is a great deal of poetry and fine sentiment in a chest of tea.»
Ralph
Waldo Emerson
3. «Tea
tempers the spirit and harmonizes the mind, dispels lassitude and
relieves fatigue, awakens thought and prevents drowsiness, lightens
or refreshes the body, and clears the perceptive faculties.»
Confucius
4. «There
is a subtle charm in the taste of tea which makes it irresistible and
capable of idealisation. Western humorists were not slow to mingle
the fragrance of their thoughts with its aroma. It has not the
arrogance of wine, the self-consciousness of coffee, nor the
simpering innocence of cocoa.»
Kakuzo
Okakura
(Este senhor de quem nunca tinha ouvido falar provocou-me uma particular curiosidade e fui à net procurar informação)
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/426399/Okakura-Kakuzo
O DESAFIO DE HOJE
Mais abaixo, as nossas interpretações fotográficas do belíssimo poema de Emanuel Félix.
FIVE
O'CLOCK TEAR
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
A Palavra O Açoite (1977), Emanuel Félix (retirado da net)
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
A Palavra O Açoite (1977), Emanuel Félix (retirado da net)
quinta-feira, novembro 22, 2012
AGENDA PARA NOVEMBRO DE 2012
E depois do desafio de hoje - Fotodicionário - com a palavra «Refúgio» escolhida pelo Zambujal, aqui fica a proposta para a próxima semana.
Dia
29 - Fotografando
as palavras de outros sobre
o belíssimo poema
FIVE
O'CLOCK TEAR
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
A Palavra O Açoite (1977), Emanuel Félix (retirado da net)
Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
A Palavra O Açoite (1977), Emanuel Félix (retirado da net)
quinta-feira, novembro 15, 2012
AGENDA PARA NOVEMBRO DE 2012
Dia
22 - Fotodicionário
com
a palavra “Refúgio”
escolhida pelo Zambujal
AVISO:
Como nas últimas semanas tem aparecido um intruso que deixa "gatafunhos" indecifráveis mas que incomodam, talvez porque não os entendo, sou forçada a colocar a moderação de comentários durante uns tempos.
Quero também pedir-vos desculpa por não ter comentado as vossas participações da semana passada. Estive fora e por isso, quando regressei, as minhas obrigações habituais tinham-se acumulado "por falta de uso" e, ao serem retomadas, encurtaram o meu tempo disponível para este tipo de coisas.
M
COM AS PALAVRAS DENTRO DO OLHAR
A Mac enviou esta sequência de fotografias que explicam aquela primeira que serviu de inspiração aos nossos textos e acrescentou a informação em baixo.
«Estas fotos são de uma instalação presente no Flea Market no Porto. São sapatilhas em gesso, espalhadas pelo recinto do mercado.
O Flea trata-se de um mercado de produtos em 2ª mão e vintage, cuja filosofia é "O lixo de uma pessoa, é o ouro de outra"; além da venda de vestuário, também se vende doces, bolos e petiscos, e há instalações engraçadas como nas fotos. Podem saber mais aqui: http://www.facebook.com/fleamarket.porto»
14. Zambujal
Em oferta, algures numa “feira da ladra”:
É aproveitar, senhoras e senhores, meninas e meninos, aqui têm sapatilhas em “segundo pé”!
Quem levar uma sapatilha do pé direito tem direito a duas do pé esquerdo, e quem levar uma do pé esquerdo tem direito a duas do pé direito (para não desirmanar… pois os pés são manos aos pares, isto é, gémeos).
Oportunidade única! Só para esta semana. Passem palavra, puxando umas pelas outras.
Zambujal
Quem levar uma sapatilha do pé direito tem direito a duas do pé esquerdo, e quem levar uma do pé esquerdo tem direito a duas do pé direito (para não desirmanar… pois os pés são manos aos pares, isto é, gémeos).
Oportunidade única! Só para esta semana. Passem palavra, puxando umas pelas outras.
13. Zé-Viajante
Andei,
andei, percorri a feira toda. Vi farturas, legumes, roupa de marca
"aldrabada", algumas coisas engraçadas também. Do que
procurava, nicles...
Doem-me as patas, não gosto de andar descalço (também não gosto do ar triste desta gente, com cara de crise) e por isso vou para casa.
Ainda por cima, estes sapatos todos à minha volta, ali expostos, de borla, têm um número muito elevado para os meus sensíveis pés.
Doem-me as patas, não gosto de andar descalço (também não gosto do ar triste desta gente, com cara de crise) e por isso vou para casa.
Ainda por cima, estes sapatos todos à minha volta, ali expostos, de borla, têm um número muito elevado para os meus sensíveis pés.
Zé-Viajante
12. Teresa Silva
Uma
fotografia cheia de contrastes. Desde logo na cor muito branca com a
calçada escura. Continua com uma fila de pessoas cheia de sacos,
possivelmente à espera de entrar numa loja, e sapatos aparentemente
novos espalhados no chão. Estamos em saldos na loja e na rua, ou
alguém deixou cair um saco de compras? Difícil de entender...espero
que a autora explique.
Teresa Silva
11. Rocha/Desenhamento
O
desafio da imagem, neste caso como noutros, coloca-nos diante do que
somos; e muito do que julgamos ver é menos do que sabemos. Sabemos
sempre mais do que aquilo que vemos através do olhar. E contudo a
dimensão plurisignificante das coisas que nos cercam, podendo
accionar memórias e saberes para além delas, tem em si mesma
aspectos inacessíveis ou estranhos.
O
que vejo aqui, tudo o que já entrou para dentro do meu olhar, pode
reduzir-se a um indeterminado conjunto de pessoas que não sei quem
são nem o que fazem. Seguram, em jeito de espera, talvez sacos de
compras, recolhas. É gente de uma certa margem, depende talvez de
entregas contra o alarme, e julgo que algumas das figuras a quem o
enquadramento decepou as cabeças olham contudo para restos amolgados
de sacos de plástico ou algo que perdeu
utilidade, sentido, função: são formas abandonadas e que para mim
quase não têm nome, enchem de fragmentos brancos a mediana do
campo, estão quase perto de quem olha e sobre o empedrado
aparentemente granítico da rua. Não sei onde estou, não há
definição suficiente, nem nas pedras, nem nos despojos brancos, nem
na cadeia de pessoas cuja pausa ou acção se indetermina: é um
fragmento do quotidiano que o meu olhar me permite apontar aqui e
além, mas não através de nomes do ser e do fazer. O que sei é
mais do que vejo. E contudo estou manietado aquém do que vejo. É
nestas condições que o homem parece confrontar-se com uma penosa
condição de cegueira,
dir-se-á que mal consegue congregar os sentidos objectivos, comuns a
toda a cena, das imagens
exteriores a si. A mim.
Rocha
de Sousa
10. ~pi
Perderam-se
os pés.
Perderam-se dos pés - diziam as vozes espalhadas pelo tubo da estrada.
Era uma estrada calada onde nenhum carro apitava ou rodava.
O chão suspirava dum modo estranho a cada passagem.
"Procuram-se os pés" - reli uma vez mais e logo quis perguntar a João porque nunca anunciamos nada no dia em que não encontramos a alma.
Ocorreu-me que por motivo desconhecido e pela ausência da prova visível dos pés
os corpos se tivessem libertado das suas ligações mais básicas
E se elevassem agora, já longe - no mistério desconhecido dos pássaros.
Perderam-se dos pés - diziam as vozes espalhadas pelo tubo da estrada.
Era uma estrada calada onde nenhum carro apitava ou rodava.
O chão suspirava dum modo estranho a cada passagem.
"Procuram-se os pés" - reli uma vez mais e logo quis perguntar a João porque nunca anunciamos nada no dia em que não encontramos a alma.
Ocorreu-me que por motivo desconhecido e pela ausência da prova visível dos pés
os corpos se tivessem libertado das suas ligações mais básicas
E se elevassem agora, já longe - no mistério desconhecido dos pássaros.
~pi
9. Mena M.
Dentro
do meu olhar sobre esta fotografia nem uma palavrinha se esboçava.
Insisti e nada...Um pouco irritada já, franzi o sobrolho,como
costumava fazer aos meus filhos para lhes sinalizar que o assunto era
sério.
Sapatos, pessoas,
e aí veio-me à ideia uma
manifestação de desagrado contra algum político em terras
distantes, mas não, estes modelos não se usam por lá!
Tornei a olhar e
reparei que até o cão seguia o seu caminho sem sequer se interessar
por aqueles sapatos que mais parecem de gesso. Gesso? E agora as
palavras surgiam em turbilhão, sim é capaz de ser isso mesmo, uma
manifestação de arte, talvez uma dessas por vezes tão difíceis de
entender...
Cá ficarei à
espera que a Mac faça o favor de desvendar o mistério.
Mena
M.
8. Mac
A
Cinderela foi dar a sua corridinha habitual, a fim de cuidar da sua
aparência, mas trapalhona como só ela é, escorregou caiu, e deixou
as sapatilhas espalhadas pela rua...
Mac
7. M.
A
lembrar-me um filme para crianças em que apenas aparecem dois
sapatos de duendes a correr pela floresta, numa pressa engraçada de
fazer rir quem os vê e não sabe para onde eles vão. Aqui, no
entanto, parece não serem sapatos de histórias de meninos nem haver
pressa. Ou então talvez ela tenha existido, acompanhada do cansaço
de desejar chegar onde não se chegou e assim se ficou pelo caminho,
o desânimo desmaiado sobre as pedras da calçada. Ou pior ainda,
porque preso ao chão esse desânimo, com espigão de ferro ao jeito
de armadilha de caça colocada em lugar onde é suposto correr a
vida.
M
6. Luisa
Decerto algo
de profundamente filosófico estará inerente a esta foto. Eu, na
minha simplicidade, apenas me ocorre o provérbio "Sapato branco
em Janeiro é sinal de pouco dinheiro". Será que é a
liquidação duma sapataria, agora que se aproxima o Inverno? Fico
desejosa de ver as interpretações dos meus amigos mais
intelectuais.
Luisa
5. Licínia
“Com
as sapatilhas dentro do olhar” – assim pensou MAC ao cruzar a
câmara fotográfica com aquele insólito estendal de branco em que o
olhar do homem se prendeu, interrogativo, alheado.
Licínia
4. Justine
Ao
artista, numa fulguração súbita, surge a ideia. É, depois,
preciso concretizá-la, transformá-la em objecto. Trata dos moldes,
do gesso, da forma. E a ideia passa a ser visível, o que é o mesmo
que fazer um milagre. Ou fazer arte. A seguir, para que o processo se
complete, oferece aos outros a sua ideia-objecto no local certo, para
ser partilhada.
Há quem o tenha percebido. Há outros que não.
Há quem o tenha percebido. Há outros que não.
Justine
3. Bettips
Olhei
e pensei num ápice: sapatilhas brancas abandonadas, auxiliares,
médicos e enfermeiros que nos faltam aqui. E emigram; e fogem do
destino português, beco tão estreito que o sentimos hoje! O espanto
que toda esta incongruência nos provoca está, como num espelho, no
olhar aturdido das pessoas em segundo plano...
Bettips
2. Benó
Brancura
imaculada atirada para a sujidade da rua. Ninguém olha, ninguém
repara, serão pisadas, espezinhadas, pontapeadas por todos sem dó
nem piedade, atiradas para a valeta como objectos sem valor. Dentro
em pouco, da pureza branca, nada mais restará que farrapos, restos
do que foi e não mais voltará a ser.
Benó
quarta-feira, novembro 07, 2012
AGENDA PARA NOVEMBRO de 2012
14. Zé-Viajante
GOSTO / NÃO GOSTO
Gosto de os ver assim. Juntos ou isolados.
Não gosto da poluição que fazem.
Gosto de os ver voar, livres, parecendo até que são maiores que o "meu" Palácio da Vila.
Não gosto mesmo de ver os carros - o meu, então... - com tanta porcaria.
Gosto da sua postura. Pássaros bonitos. Pássaros de PAZ, sejam brancos ou não.
Não gosto... não vale a pena repetir.
Gosto, muito mesmo, destas aves.
E na balança, pesa mais o factor Gosto.
Zé-Viajante
13. Zambujal
12. Teresa Silva
11. Rocha/Desenhamento
Gosto de ficar perto da janela, a espreitar a mudança das horas e das imagens, envolvido num silêncio ligeiramente crispado pelos ruídos difusos que emergem da distância urbana. Por vezes, volto a reflectir nos enganos do espaço além, relendo futuros perigosamente anunciados e revendo o martírio da Síria, todas as dores que ardem por cima da paisagem, todas as assimetrias que dividem os homens e a cultura, tudo o que começa a afundar os caminhos da civilização, a própria Cidade. A convulsão actual leva à substituição silenciosa dos símbolos perenes da vida por novos deuses de rostos mafiosos, entre quotidianos onde passam multidões acenando bandeirinhas de mil protestos, sem nada de sagrado. São imagens pueris da revolta e do medo, desafiando os grandes estandartes das corporações em redor. A arte não passa por aqui mas já se encontra sob a mira industrial. Hoje já pouco se guarda, em certos casos nada. A própria beleza torna-se descartável, acaba por sucumbir ao fim de uma vida bem curta. No futuro, talvez os museus do século passado, os da conservação patrimonial e das memórias supremas, terão de ser atirados para o espaço.
Rocha de Sousa
10. ~pi
9. Mena M.
8. Mac
7. M.
Gosto de um barco à vela ao entardecer de um dia de verão. Não importa onde o barco navega nem onde o sol se põe. Um gosto meu. Podemos ter tantos! Aqui em cima da mesa encontro alguns. Ora vejam. Ainda no prato, o gosto adocicado das migalhas dos scones a lembrar conversa amena sobre as peculiaridades da cidade visitada. Tenciono embrulhá-las discretamente no guardanapo de papel e levá-las comigo quando sair da pastelaria. Mal ponha os pés fora da porta, sacudo-as num dos canteiros em redor das árvores que servem de poiso a passaritos de gosto requintado. Sei que esvoaçam por ali à procura de petiscos. E o chá a abrir-se em águas irlandesas ao canto da fotografia, também vais partilhá-lo com essas criaturinhas de asas delicadas?, perguntará a curiosidade de quem observa a imagem com atenção. Bom, não me parece que apreciem esta bebida, tenho-as visto a molhar o bico nas poças do passeio. Além do mais, cada um tem os seus hábitos.
E mais gostos haveria mas não quero cansar-vos. Ah! Não resisto a uma última confidência, antes de me ir embora daqui: Gosto de gostar. A culpa é da língua portuguesa, é muito emotiva.
M
6. Luisa
5. Licínia
4. Justine
Gosto dele. Muito. Há quem diga que é paixão. Mas não é. Apenas gosto dele, muito.
Gosto da elegância graciosa do seu pequeno corpo em movimento. Gosto do mistério que se adivinha no lago verde e sem fundo dos seus olhos. Gosto da mistura sábia entre subtis atitudes de independência e gestos inequívocos de ternura. Gosto da eloquência do seu suspiro de paz quando adormece no meu colo.
Gosto do meu velho gato. Muito!
Justine
3. Bettips
quinta-feira, novembro 01, 2012
AGENDA PARA NOVEMBRO DE 2012
Dia 7 - Reticências
com
a palavra “Gosto”
a iniciar o texto
NOTA:
Na próxima semana publicarei os nossos trabalhos de casa no dia 7 à noite, quarta-feira, pelo que vos peço me enviem tudo, o mais tardar, até à manhã desse dia.
O DESAFIO DE HOJE
Parece que a sílaba "no" do nosso Ao jeito de cartilha de hoje resultou muito bem, não acham? E, para quem o desejou, as fotografias apareceram ao serão em boa companhia...
10. ~pi
Outono
No lugar onde antes era horta, no tempo em que ali morava a velha senhora que há muito se sabia, no povo, vinha assombrar a casa com alguma regularidade, Teresa plantara árvores, cujas folhas, agora no outono, eram como flores - como Camus escrevera, assemelhavam-se-lhes tanto na forma como na cor, exuberantes de degradés quentes, essas folhas húmidas que varríamos e nos levavam enroladas em si, justificando os sinais da circulação dos ventos nas estreitas passagens e depois se misturavam com castanhas, nozes e bolotas e com um cheiro a terra fresca que se prepara para adormecer após a maturação afogueada dos dióspiros.
~pi
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