A telha portuguesa usada na cobertura das antigas casas. O seu assentamento indiciava a finalização da fase mais urgente da construção – a cobertura. O pedreiro, curvado, de rins à força do sol, os pés em equilíbrios que só ele sabia sobre as traves de madeira ainda descobertas. O servente enchia o balde de massa e levava-o ao ombro pela escada de mão acima. Com a colher de bico arredondado, o mestre pedreiro vedava com o cimento a boca das telhas que umas sobre as outras imbricava. Era bonito de se ver crescer, na inclinação do telhado, as fileiras de barro vermelho, umas às outras paralelas, e as madeiras a desaparecerem sob a protecção das telhas que as haviam de guardar das chuvas, Inverno após Inverno.
Depois de muitos consertos e algumas limpezas, também as telhas vão envelhecendo, soçobrando, deixando de ser a protecção das madeiras que, apodrecidas, descaídas, irão dizer a quem passa que a casa chegou ao fim e que das gentes que guardou já pouco sabe.
Depois de muitos consertos e algumas limpezas, também as telhas vão envelhecendo, soçobrando, deixando de ser a protecção das madeiras que, apodrecidas, descaídas, irão dizer a quem passa que a casa chegou ao fim e que das gentes que guardou já pouco sabe.
Licínia
2 comentários:
A riqueza dos pormenores da construção levar-me-ia a pensar seres tu experimentada artesã-pedreira! Mas basta seres artesã das palavras...
Uma autêntica descrição de palavra-pedra-sobre-pedra!
(Sabes que lembrei a lar-te "O Tecto" de Vittorio de Sica, 1956?)
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