Proposta
de Mena M.
Dia
29
– Fotografando
as palavras de outros sobre
o texto
"Escuta, Amor" de José
Luís Peixoto, in “Abraço”
Escuta,
Amor
Quando
damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as
ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a
espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de
crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou
madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos,
transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem
da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito
lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz
todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas
de terra.
Por
isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou
aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos
mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos.
Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade
com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a
ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá,
mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o
instante em que nos encontrámos.
1 comentário:
Do céu à terra de árvores longas, passando nas mãos dadas, se faz "o amor às pessoas e às coisas".
Aprendemos "sem esforço" a "transformar-nos na mesma matéria do mundo". Tirando frases desta declaração tão bela, a propósito de vos conhecer...
Abçs e boas Páscoas
Bettips
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