9. Mónica

100 quadradinhos, são mesmo 100, 10 vezes 10, pouquíssimos para fazer uma colagem, fiz várias com 100, rápidas, cada uma numa noite, escolhi esta para o desafio sem muita convicção, gosto das formas que fiz com as cores (feitas de embalagens de café, as cores sugerem a intensidade do café) mas as cores são tristes, como de há uns tempos para cá, eu sei como todos sabemos que os tempos são incertos, não quero contribuir para a choradeira, muro de lamentações, negações, greves de fome, teoria da conspiração, quero estar feliz e agradecida com aquilo que vou vivendo cada dia, cautelosa, a cumprir o que me mandam, sem contribuir para as causas e as culpas, aproveitando as vantagens, soa a blasfémia, não vou enumerar as vantagens, não são 100 nem 50, basta a tristeza dos que sim, os que estão doentes, em risco, desempregados, com razões concretas. Com estes 100 quadradinhos gostava de lembrar que os meus avós nasceram há mais de 100 anos, e agora sim 100 é muito, e foi pouco o tempo para os conhecer como mulheres e homens, morreram à vez há tantos anos que a vivência que tenho deles é como se tivessem sido sempre velhos de 100 anos, a 100 léguas da minha atenção. Que não passem outros 100 segundos em que me distraia sem dar conta do que me rodeia, que está aqui comigo, tal como está, sem desejar que seja de outra maneira. Daqui a 100 qualquer coisa o momento passou. Feliz Natal.

Mónica