quarta-feira, dezembro 29, 2021

9. Mónica

Vejo vários cavalos, dois deles brancos, abrandei para ver melhor, um deles com uns olhos de uma cor estranha, um acampamento, uma tenda, uma fogueira, num dia de chuva, parei o carro, abri o vidro do lado direito e perguntei ao cigano se os cavalos eram dele, se eram albinos e se podia tirar uma fotografia ao cavalo, disse-me que sim, perguntou-me se eu percebia de cavalos, disse-lhe que não, apenas tinha ficado surpreendida com os olhos daquele cavalo, perguntei-lhe como se chamava, “Pardal”, perguntou-me se eu sabia o caminho para Évora, respondi-lhe que não sabia, nem sabia onde estava, tinha um GPS e era assim que me orientava, agradeci-lhe a autorização para tirar a fotografia, desejei-lhe boa sorte, fechei o vidro e segui. Acenei-lhe. Que grande tola, disse GPS, surrealista.

Mónica

6 comentários:

Margarida disse...

GPS = Gosto de Perguntar Sempre

M. disse...

Impressionante o aspecto triste deste cavalo, esfomeado, desnutrido, certamente semelhante ao do seu dono, que imagino seria assim. Horrível vê-lo ali preso. Todos presos a uma vida degradada sem fugas possíveis?

mena maya disse...

Ah se lhe nascessem umas asas não de pardal, mas de pégasus saíria dali todo poderoso. Como não é o caso, gosto de imaginar, que apesar das dificuldades seja amado pelos seus donos.

Justine disse...

Ao menos tem um nome bonito, carinhoso! Vamos pensar que não era maltratado pelos donos...

bettips disse...

As tuas palavras são tantas vezes de tanta graça e realidade!
Parabéns por veres pequenas coisas simples e as desenvolveres, quase, em "estudos sociais"!

Mónica disse...

não querendo ser dura mas acho que o cavalo se destaca apenas pela cor, tudo o resto é assim mesmo, pobres, livres, conforme podem, animais e pessoas. admiro a "rebeldia" destas vidas. é um espetar de dedos nos nossos olhos.