CARNE. Quando o meu filho era miúdo, teria uns três ou quatro anos, naquela fase em que não dizem os “r”, levei-o uma vez ao talho, fiz as compras, paguei e quando ele percebeu que íamos embora diz bem alto “e a cáne boa?” o senhor do talho, o senhor Tó, eu e todos ficamos a olhar uns para os outros, o senhor Tó meio desconfiado ainda disse “a carne aqui é toda boa”, até que o miúdo aponta para a peça de fiambre que estava na montra do frigorifico, e diz “e a cáne boa?”. Desatámos todos a rir, o miúdo tinha estado atento, ali a cota inferior, topou as compras todas, eu não fazia ideia que fiambre era “carne boa” e que ele a queria. Não sei de onde lhe veio o gosto e a designação, em casa ninguém apreciava/consumia fiambre. Ainda hoje, de vez em quando, compro uma fatia grossa de “cáne boa”, corto-a aos cubos e deito na salada, coisas para o menino.
Mónica
6 comentários:
Um episódio vivido, recordado e contado com muita ternura, Mónica! Lindo!
Que giro, o falar das crianças. E que bem contas a história vivida no talho ao rés dos olhitos. Acho bem que ainda lhe faças "os cubos".
Fizeste-me voltar às recordações:
O meu filho dizia "ovi não, só viave" porque eu tinha a mania de fazer o que agora se chama "brunch" e era o pequeno almoço à inglesa. Entre a família eram famosos esses domingos pela 1h da tarde.
Tem graça nós temos esse ritual do pequeno almoço, pelo menos uma vez, nas férias, ovos, bacon, tomate, baked beans, café, chá, torradas e sei lá que mais, mas o meu filho é como o teu "ovi não
Também nós fazemos um pequeno almoço inglês nas férias, pelo menos um, porque não há muitos aderentes :))) é engraçado como há rituais iguais por muito improváveis que sejam
Na minha terra não havia fiambre à venda e era para mim uma alegria, quando tinha que vir a Lisboa, parar logo na Pastelaria Suiça e comer uma bela sandes de pão com fiambre.
Luisa
Que giro, Mónica, estas coincidências! Eu era mais para não estar agarrada ao fogão aos domingos de manhã, e manter uma certa nostalgia, very british. Nós passámos 2 anos em Londres nos anos 70. A partir daí, sempre fiz brunch à inglesa em casa: torradinhas, compota de laranja amarga, ovos mexidos, fiambre ou bacon e o mais que viesse à ideia.
No princípio dos anos 80, descobri, em férias, um supermercado em Portimão que tinha as verdadeiras "sausages", ainda me lembro do nome dele era o Okapi. Como havia mais ingleses que portugueses por lá...
E quando ia a Londres, imagina tu o que trazia na bagagem de mão.
O certo é que havia sempre família ou amigos a aparecer para essa refeição. A minha sogra adorava, íamos buscá-la à missinha nos Congregados e depois "congregava-se" lá em casa, com quem mais estivesse.
Tks to you I remember!
Abç
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