quarta-feira, maio 21, 2014

8. M.



Eu estava de passagem e assisti, por mero acaso, àquela cena de teatro ao ar livre e às orientações dadas pelo fotógrafo encenador aos atores principais. Estranha ideia a sua de os mandar pôr os braços atrás das costas e as mãos enfiadas nos bolsos, gestos que me pareceram inestéticos e soltos num momento que supostamente se desejaria fixado para a posteridade como de partilha de emoções perante a beleza. Ouvi-o e vi-o estender o véu da noiva sobre as pedras, observei a sua azáfama a compor o cenário dentro daquele outro cenário bem mais interessante que é a velha Gordes equilibrada entre a terra e o céu. Continuei o meu caminho, eles ficaram. Não sei por quanto tempo. Só espero que, no seu zelo coreográfico, o fotógrafo não os tenha forçado a fecharem os olhos. Na beirinha havia um precipício... 
M

3 comentários:

agrades disse...

Uma cena surreal! Inesquecível!

Luisa disse...

Para fugir ao "costume" e ser original, entra-se no campo do mau gosto com toda a facilidade. Que pena!

Justine disse...

O casamento pode ser um precipício, onde se entra, naturalmente, de olhos fechados...