Dia 20 - Com as palavras dentro do olhar sobre a graciosa fotografia da Luisa.
quinta-feira, janeiro 30, 2014
AGENDA PARA FEVEREIRO DE 2014
Dia
6 - Ao
jeito de cartilha: Proponho-vos
que usemos a sílaba “Ta”
para formar as nossas palavras. O
texto que alguns de nós acrescentarmos é facultativo.
Dia
13 - Reticências
com
a frase “O
corpo”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
Dia
20 -
Com
as palavras dentro do olhar sobre
fotografia
da Luisa.
Dia
27 - Fotografando
as palavras de outros sobre
os dois excertos abaixo transcritos.
«(...)
Estava a sentir a acção de emoções contraditórias, e precisava
de se agarrar ao que em si havia de melhor, os seus pensamentos mais
meigos acerca dela, pois de outro modo parecia-lhe que iria sucumbir,
ou simplesmente ceder. Sentia um peso líquido nas pernas quando
atravessou o quarto para recuperar as cuecas caídas no chão.
Vestiu-as, pegou nas calças e ficou um bocado com elas penduradas da
mão a olhar pela janela, a ver as árvores encolhidas pelo vento,
agora escuras e reduzidas a uma mancha contínua de um verde
acinzentado. Lá no alto havia uma meia-lua fumarenta, praticamente
sem brilho. O som das vagas a desfazerem-se na praia a intervalos
regulares interferia com os seus pensamentos, como um botão de
súbito comutado, e enchia-o de fadiga; as leis e processos
incessantes do mundo físico, da lua e das marés, que em geral pouco
interesse lhe despertavam, não eram minimamente alterados pela sua
situação. Este facto mais que óbvio era duríssimo. Como podia
conviver com eles, sozinho e sem ter quem o apoiasse? E como podia
descer e enfrentar Florence na praia, onde suspeitava que ela devia
estar? Sentiu as calças pesadas e ridículas na mão, esses tubos de
tecido paralelos, unidos numa extremidade, uma moda arbitrária de
séculos recentes. Parecia-lhe que vesti-las iria devolvê-lo ao
mundo social, às suas obrigações e à verdadeira dimensão da sua
vergonha. Uma vez vestido, teria de ir procurá-la. E por isso
demorava-se.»
«Quando pensava nela, ficava pasmado por ter deixado partir aquela rapariga com o seu violino. (...) Tudo de que ela precisava era da certeza do seu amor e de que ele lhe garantisse que não havia pressa, quando tinham a vida inteira pela frente. Amor e paciência - se ao menos tivesse possuído os dois ao mesmo tempo - por certo tê-los-iam ajudado aos dois. (...) É assim, não fazendo nada, que todo o curso de uma vida pode ser alterado. Na praia de Chesil ele poderia ter chamado Florence, poderia ter ido no seu encalço. Não sabia, ou não quis saber que, quando ela fugiu dele, segura na sua angústia de que estava prestes a perdê-lo, ela nunca o amara mais, ou mais desesperadamente, que o som da sua voz teria sido uma libertação, e que ela teria retrocedido. Em vez disso, permaneceu no frio e no silêncio virtuoso do fim daquele dia de Verão, vendo-a caminhar apressada pela praia, com o som do seu avanço penoso abafado pelas pequenas vagas, até se tornar uma mancha indistinta, um ponto a desaparecer contra a imensa estrada de seixos a brilhar na luz pálida do lusco-fusco.»
Na
Praia de Chesil,
Ian McEwan, Gradiva, Abril de 2007
O DESAFIO DE HOJE
Dia
30 - Fotografando
as palavras de outros sobre
um excerto de um livro muito antigo. Lembram-se de Luís de Sttau
Monteiro? Eu achava-lhe graça.
«As
flores não se comem e é por isso que elas não têm medo de crescer
nos caminhos e nos parques porque se as flores fossem de comer já
havia grémio das flores e outras coisas iguais e vai de vez em
quando a gente ficava a vê-las por um óculo como acontece ao
bacalhau que não é flor e que se come mas as flores têm graça
porque não se comem mas bebem-se quando a Vovó começa a falar alto
ao jantar e a dizer mal dum senhor que se chama Kaiser e que parece
que já morreu mas ela não acredita e diz que a culpa de tudo é
dele a minha Mãe dá-lhe chá de flor de laranjeira e manda-a para a
cama e às vezes não é preciso chamar o doutor mas às vezes é
aqui ao lado mora uma senhora chamada D. Lisabete que tem flores num
caixote à janela e rega-as todos os dias com uma cafeteira que
comprou com tampas de detergente e mais cinco escudos que é o preço
da cafeteira mesmo para quem não tem tampas de detergente e a água
cai por um buraquinho que há no caixote em cima das pessoas que
passam na rua e elas ficam danadas e gritam cá para cima (...)»
Redacções
da Guidinha
(A
Flor),
Luís de Sttau Monteiro, Areal Editores, 2003
Compilação
de algumas “Redacções da Guidinha” publicadas no Diário
de
Lisboa
entre 1969 e 1970 e agora reunidas em volume por especial deferência
deste jornal.
(Como
seria impensável transcrever aqui o texto todo, tinha de parar esta
enxurrada de palavras em qualquer sítio mas confesso que me foi
difícil escolher onde.)
11. Zambujal
pois é uma flor e um regador e mais um chapéu de chuva porque está a chover e ainda um ninho que o vento atirou para a relva ou se calhar foram os melros que por aí andam a cocar bichinhos e falta a avó além dos pontos e das virgulas uma vez que o luís mais conhecido por guidinha dispensava e outras coisas mais mas sempre à espera que amanhã haja luar tenho dito
Zambujal
2. Benó
quinta-feira, janeiro 23, 2014
AGENDA PARA JANEIRO DE 2014
Dia
30 - Fotografando
as palavras de outros sobre
um excerto de um livro muito antigo. Lembram-se de Luís de Sttau
Monteiro? Eu achava-lhe graça.
«As
flores não se comem e é por isso que elas não têm medo de crescer
nos caminhos e nos parques porque se as flores fossem de comer já
havia grémio das flores e outras coisas iguais e vai de vez em
quando a gente ficava a vê-las por um óculo como acontece ao
bacalhau que não é flor e que se come mas as flores têm graça
porque não se comem mas bebem-se quando a Vovó começa a falar alto
ao jantar e a dizer mal dum senhor que se chama Kaiser e que parece
que já morreu mas ela não acredita e diz que a culpa de tudo é
dele a minha Mãe dá-lhe chá de flor de laranjeira e manda-a para a
cama e às vezes não é preciso chamar o doutor mas às vezes é
aqui ao lado mora uma senhora chamada D. Lisabete que tem flores num
caixote à janela e rega-as todos os dias com uma cafeteira que
comprou com tampas de detergente e mais cinco escudos que é o preço
da cafeteira mesmo para quem não tem tampas de detergente e a água
cai por um buraquinho que há no caixote em cima das pessoas que
passam na rua e elas ficam danadas e gritam cá para cima (...)»
Redacções
da Guidinha
(A
Flor),
Luís de Sttau Monteiro, Areal Editores, 2003
Compilação
de algumas “Redacções da Guidinha” publicadas no Diário
de
Lisboa
entre 1969 e 1970 e agora reunidas em volume por especial deferência
deste jornal.
(Como
seria impensável transcrever aqui o texto todo, tinha de parar esta
enxurrada de palavras em qualquer sítio mas confesso que me foi
difícil escolher onde.)
10. Zambujal
8. M.
Fotografei este recanto apenas porque o achei singular. Só agora, ao repescar a imagem para a publicar aqui, me saltou ao pensamento um versículo do Evangelho de São Mateus: «Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, premiar-te-á. (…)». Associações de ideias que amiúde me provocam, embora neste caso o conselho não possa ser seguido à risca. Tratando-se do corrimão de uma escada estreita que dá acesso à porta de entrada de uma casa, aquela mão esquerda que o sustém saberá, na maior parte das vezes, o que faz a direita. Não a sua porque não a tem, mas a de alguém que nele se apoie para subir os degraus com mais ligeireza. Além disso, estando ela presa à parede e sendo muda, terá menor capacidade de acção. Para quem desce, a situação será diferente. Em conformidade com a habitual constituição dos braços, a tal mão direita manterá a posição dextra no corpo a que pertence, não sendo visível do lado oposto. Encontrar-se-ão então apenas as duas esquerdas, ocasião propícia ao cumprimento mútuo, suponho, seja ele contido ou mais efusivo. Aliás, «Para baixo todos os santos ajudam», lá diz o ditado.
M
4. Jawaa
2. Benó
1. Agrades
quinta-feira, janeiro 16, 2014
12. Zambujal
O
recorte.
O
enquadramento irregular, debruado, contrastado. A limpidez do céu, o
escuro de um falso tecto, a brancura das colunas, o rendilhado por
aqui e por ali. Um todo para olhar e ver.
E
ficar pensando nas capacidades do ser humano, no que constrói a
partir das pedras, e das mãos que as trabalham, e do que as mãos
fizeram para se ajudarem, e completarem, e substituírem. E das
máquinas que guardam os momentos vistos, os retêm para serem
oferecidos a outros para que os comentem, para que esses outros
encontrem palavras.
Aqui
ficam algumas. Com tantas que ficam por dizer. Sempre!
Zambujal
11. Teresa Silva
Uma obra prima de um arquitecto,
há séculos atrás, muito bem retratada por uma não menos artista
da actualidade. Perfeito os detalhes da pedra, o recorte da fachada
principal no céu, a intercepção dos diversos planos – fotografia
muito bem pensada e executada.
Teresa Silva10. Rocha/Desenhamento
O
que devo esperar dos meus olhos no instante em que esta fotografia da
Licínia entra para dentro deles? Que já vi outros exemplos deste
género de património? Que me encanta o tempo ali expresso, as
torres espreitadas um pouco em contra-picado, sob um recorte
anterior, em contra-luz, na esteira do claustro sustentado por
colunas, vistas à direita na sua obliquidade que é defeito da nossa
mitigada percepção?.......................
Não
sei. Nem sei se é importante identificar o monumento, quem o mandou
erigir, em que tempo, com que funções no espaço religoso. O que
vejo passa para dentro de mim num jogo de associações, templos,
interiores e torres idênticas. E fico a pensar nos cânticos
arrastados, nem inteiramente suaves nem inteiramente poderosos, a
evocação de Deus conhecido entre tudo, Ele mesmo, que nos ficou
para sempre inscrito, por sucessivas fusões, nas raízes virtuais
que nos sustentam desde a Idade da Sombra.
Rocha de Sousa
9. M. J.Jara
Com as palavras dentro do olhar evoco as grandes construções dos nossos antepassados que nos deixaram monumentos das grandezas de outrora.
M.J.Jara
8. M.
Ao
olhar para esta fotografia imagino uma criança a espreitar através
de um buraco algo que lhe desperta curiosidade. Talvez porque muito
diferente do seu mundo, talvez porque encontra também ali qualquer
coisa que lhe é familiar. Sente-se confusa. Os edifícios diante de
si lembram-lhe as construções de areia na praia onde passa as
férias de verão. As pessoas crescidas contam-lhe histórias de
tempos antigos, falam-lhe com entusiasmo da solidez destas paredes e
torres erguidas por mãos fortes. Quer acreditar nas certezas dos
adultos mas, por outro lado, as experiências que vai fazendo no seu
mundo muito próprio mostram-lhe que nem sempre assim acontece. Pois
não. Sentada à beira-mar, enche e esvazia baldes com areia
construindo castelos frágeis cujas paredes reforça com búzios e
conchas. No seu frenesim de arquitecta de fantasias, não repara nas
ondas irrequietas que se aproximam inundando o fosso protector cavado
com a pá à volta das muralhas. Caem por terra, desfeitos, os
castelos e os rendilhados de areia molhada das janelas e varandas de
princesas inventadas. Oh!
M
6. Licínia
Sólida
a cidade, Salamanca chamada, maciço de conventos, igrejas, colégios
pontifícios, realíssimos, catolicíssimos, de saberes seculares. Os
tempos atravessados, novos saberes chegados, multidões curiosas,
cansadas, estouvadas, variadas, transbordando da exiguidade das ruas,
comprimidas por fachadas solenes, de pedra bordada, profusamente
exibindo poderes reais, temporais, santidades, severidades,
clausuras, pecados, castigos, sonhos também de sinos e alturas.
Hei-de voltar.
Licínia5. Justine
A
perspectiva em que foi captada a imagem, partindo do escuro para o
claro; os pormenores mostrados, que nos levam a imaginar a
monumentalidade escondida; o olhar que fotografa em plano inferior a
massa de pedra que se eleva aos céus – tudo nesta foto nos diz que
a autora conhece e ama há muito (digamos que está gravado no seu
disco
rígido…)
o objecto fotografado, e o transformou, através desse conhecimento e
desse amor, num símbolo de múltiplos e contraditórios
significados.
Justine
4. Jawaa
As
torres altaneiras e majestosas pousando o olhar sobre todos os
espaços, quem sabe à espera de mais ouro, já não do Brasil, que o
não soubemos guardar, perdidas as especiarias das Índias, as sedas
do Oriente. Já não da Europa que nos afundou no constrangimento em
que soçobramos, para não falar em desonra. Talvez a esperança deva
nascer das pepitas que vão brilhando dentro de cada um de nós.
Jawaa
3. Bettips
Que
a beleza dos monumentos da fé me toca sempre que os visito, as suas
cúpulas, os seus tesouros, os seus anjos e demónios, altares e
santos cobertos de riquezas, não deixa de me admirar que as
religiões tanto tenham gasto com o divino em detrimento do humano.
E assim, com as palavras dentro de olhar esta fotografia, me veio à ideia a recente notícia do incêndio que aconteceu na Igreja do Convento da Santa Cruz do Buçaco (integrada na construção posterior do Palace Hotel do Buçaco 5*****), destruindo uma bela e valiosa tela de Josefa de Óbidos, "A Sagrada Família", pintada em 1664.
E assim, com as palavras dentro de olhar esta fotografia, me veio à ideia a recente notícia do incêndio que aconteceu na Igreja do Convento da Santa Cruz do Buçaco (integrada na construção posterior do Palace Hotel do Buçaco 5*****), destruindo uma bela e valiosa tela de Josefa de Óbidos, "A Sagrada Família", pintada em 1664.
Bettips
2. Benó
O
pai e a mãe abraçam a filha pequena entre os dois protegida. Há
séculos que não saem do seu lugar, não abalam com ventos e
terremotos, assistem a traições e amores proibidos, suportam crises
e mentiras, já viram muito ouro, veem muita pobreza mas continuam
firmes, sólidas como umas verdadeiras torres. Que se conservem por
muitos séculos e séculos, ámen.
Benó
1. Agrades
Uma sólida construção que liquefaz os meus pensamentos e palavras. O exterior visto do interior, a solidez e o vazio, o claro e o escuro, o bem e o mal, tudo ou nada, fome ou fartura, todos lá estão e não me valem nesta árdua tarefa.
Agrades
quinta-feira, janeiro 09, 2014
O DESAFIO DE HOJE
Dia
9 - Reticências
com
a palavra “
Pronto”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
Como hoje vou ter pela frente um dia muito ocupado, fui adiantando serviço para evitar fazer serão.
M
Como hoje vou ter pela frente um dia muito ocupado, fui adiantando serviço para evitar fazer serão.
M
11. Rocha/Desenhamento
Pronto, já aconteceu. O barro bem velho, de uma peça ornamental existente nos espaços livres do Hospital dos Capuchos, transformou-se de súbito em luz, como a forma bojuda de uma lâmpada. Esta peça é muito interessante como ornato, entre pedras. Fotografei-a, ficou dentro do quadro escuro, e abriu-se de novo, no computador, como se se tratasse de uma espécie de ânfora de boca rude e intrigante. Então tratei de, electronicamente, mudar para quase branco a massa bojuda: Pronto, tornou-se lâmpada.
R. Sousa
10. Mac
8. M.
Pronto.
A palavra surgiu-me de repente sem eu saber exatamente o que fazer com
ela, preparava eu a agenda de desafios para janeiro do novo ano.
Deixei-a abrigada num dos cantos do pensamento, convencida de
que tinha o problema resolvido se conseguisse formar uma frase onde se
sentisse bem. O pior é que as palavras brincam às escondidas e amiúde
desaparecem entre fissuras diversas sem que sejamos capazes de as
agarrar a tempo de lhes apresentar companhia adequada. Pronto. Pronto o
quê? O fim do início de uma ideia por desenvolver? Posta de parte sem se
revelar? A pergunta pressupunha desistência, o que me desagradava.
Talvez «Pronto a comer», embora título demasiado conciso e comercial
para tamanha doçura de um Monte Dourado. Lindo o nome, o sol escorrendo
sobre alvos castelos. A lembrar-me a minha Tia Chanel e a sua sobremesa
habitual nos dias de festa em casa dos meus Pais. Cozinho-a eu agora,
assim presentes ambas no sabor dos ingredientes que as recordações podem
conter.
M
6. Licínia
Pronto para as batalhas, o general guardou os medos na gola do capote e avançou. Perdeu, ganhou, sofreu e voltou. Partiu ainda jovem, perdida a última batalha com a senhora-do-medo. Vemo-lo hoje, na branca pedra, o susto no olhar, a gola de general impecavelmente erguida.
(Em Pau, na casa-museu Bernadotte, herói francês que, por vicissitudes da paz
e da guerra, nos tempos de Napoleão, chegou a rei da Suécia.)
Licínia
5. Justine
3. Bettips
2. Benó
Pronto!
As prendas estavam embrulhadas em lindo papel colorido aproveitado das revistas adquiridas no quiosque do largo e rematadas com laçarotes das fitas do ano passado. Para dar um ar ainda mais festivo, colocou-se fuxicos confeccionados com os restos de tecidos guardados na gaveta dos retalhos. Orgulhosa do seu trabalho e da economia que tinha feito, podia, enfim, descansar da azáfama que antecede, sempre, os preparativos para os abraços aos amigos e família nesta época de filhós e rabanadas.
Pronto! - disse mais uma vez e sentou-se no seu lugar de eleição frente ao pequeno pc pronta para falar com os amigos do FB.
As prendas estavam embrulhadas em lindo papel colorido aproveitado das revistas adquiridas no quiosque do largo e rematadas com laçarotes das fitas do ano passado. Para dar um ar ainda mais festivo, colocou-se fuxicos confeccionados com os restos de tecidos guardados na gaveta dos retalhos. Orgulhosa do seu trabalho e da economia que tinha feito, podia, enfim, descansar da azáfama que antecede, sempre, os preparativos para os abraços aos amigos e família nesta época de filhós e rabanadas.
Pronto! - disse mais uma vez e sentou-se no seu lugar de eleição frente ao pequeno pc pronta para falar com os amigos do FB.
Benó
quinta-feira, janeiro 02, 2014
AGENDA PARA JANEIRO DE 2014
Dia
9 - Reticências
com
a palavra “
Pronto”
a iniciar o texto. Não esquecer a fotografia.
O DESAFIO DE HOJE
Dia 2 - Ao jeito de cartilha: Proponho-vos que usemos a sílaba “Pas” para formar as nossas palavras. O texto que alguns de nós acrescentarmos é facultativo.
11. Teresa Silva
10. Rocha/Desenhamento
Pas...
Passando
por terras abandonadas, num pasmo de domingo e no azedume dos seus
próprios passos, o homem esquecido procurava vencer a vertente da
paisagem, montanha após montanha, carregando sobre as costas a pedra
que era sua entretanto, coisa informe atada por uma rede de cordas
que ele agarrava com as duas mãos abaixo enlaçadas abaixo do peito
encovado. E assim chegou ao cimo do monte mais alto daquele dia,
rugindo de dor e raiva, a deslaçar as mãos num gesto largo, ao
alto, passo em frente, e a pedra tombando atrás, ruído abafado pela
terra e pela teia das cordas. O homem ficou suspenso de um cansaço
sem nome, tomou nas mãos a folha onde apontava todos os
carregamentos de todos os dias. Balbuciou: um milhão e quatro. Um
ruído nas suas costas alertou-o de súbito, voltou-se para ver a
pedra rolando devagar, atroadora, com as cordas rodando em pontas
soltas. Afastava-se e perdia-se, a pedra, numa nuvem de pó. O homem
murmura: um milhão e três.
Rocha
de Sousa
2. Bettips
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