Dia
26 em vez de 25
- Fotografando
as palavras de outros sobre
o excerto
[…]
Quase
invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus
parecia sorrir-lhe.
-
Boas Festas! - desejou-lhe então, a sorrir também.
Contente
daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e
deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra
ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de
frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da
romaria que arranjassem um novo.
Daí
a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo,
desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim
ardia que regalava; só de se cheirar o naco de presunto que recebera
em Carvas, crescia água na boca; que mais faltava?
Enxuto
e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do
bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra, e sentou-se.
Mas antes da primeira bocada, a alma deu-lhe um rebate e, por
descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela.
O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a
casa toda.
-
É servida?
A
Santa pareceu sorrir-lhe outra vez e o Menino também. E o
Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não
esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na
imagem e trouxe-a para junto da fogueira. - Consoamos aqui os três – disse com a pureza e a ironia dum patriarca.
- A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.
Miguel
Torga, "Novos Contos da Montanha"
1 comentário:
Quis comentar individualmente, o tempo fugiu e eis-me a agradecer (tarde!) a colaboração diversificda de todos os que entraram no espírito de Natal que perpassa na personagem magnífica do mendigo, neste conto magistral de Miguel Torga.
Foi uma experiência boa sentir-me dentro do «jogo» - uma perspectiva diferente de o olhar - proporcionada pela «nossa M.» e para ela o meu abraço especial.
A todos apeteço um Novo Ano de Paz.
Abraço-vos.
Jawaa
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