quinta-feira, março 24, 2016

4. Jawaa



Era apenas uma menina quando carreguei a palavra no meu dicionário: derivada de terror, era uma guerra diferente, ardilosa, não respeitava civis, mulheres ou crianças, podia acontecer em qualquer lugar, era uma guerra injusta. 
A Argélia incendiava-se. Ameaçava Paris - a minha cidade de sonho - e o terrorismo grassava para sul, o Congo ali ao lado. Não havia kalashnikovs, mas havia canhangulos e catanas que retalhavam famílias inteiras, brancos e negros; estávamos em 61. Já na faculdade, estudei a Negritude, vibrei com a perspectiva de independência da minha terra - que não era minha afinal! 
Agora, só consigo olhar o horizonte e ver pinceladas de sangue no céu que, dizem, fez os Homens todos iguais. Também não é verdade: há um qualquer deus ali a olhar os Homens preconceituosamente. 
Jawaa

3 comentários:

Rocha de Sousa disse...


Este texto tem cinema e memória lá dentro, e eu, que li fascinado o livro de Sartre NEGRITUDE, sei o peso e a distância quante
do céu desta imagem

bettips disse...

Pungente. Como são os teus textos de memórias. E sim, parece que há um deus de preconceito, distraído, das cores, raças, religiões ou crenças, dos homens.

Licínia Quitério disse...

Negritude ou negrume?