Creio
nos deuses que me dizem:
Morres todos os dias.
Nas bermas dos caminhos velhos,
no papel manchado das cartas,
no mofo das gavetas,
no toque do abandono,
no que ainda não sabes,
no que já esqueceste,
na fuga do desejo,
no sabor perdido das amoras,
no odor perdido dos amores.
Morres e revives todos os dias.
Quando o galo canta ao longe,
quando chegam notícias de primaveras,
quando as dores amortecem,
quando um riso atravessa a planície,
quando sobes à árvore com os olhos,
só com os olhos,
e os frutos te adoçam a boca.
És isto,
um corpo vivo
a percorrer o domínio dos deuses,
implacáveis,
insensatos, brutais, amáveis, serenos,
misericordiosos.
Somos deuses mortais.
Como tu.
Licínia
5 comentários:
Licínia, nem sei bem qual dos poemas prefiro, se o teu se o escolhido pela Jawaa...
Tão bonito, este...
Uma cadência poética (talvez "aquele poema") que nos põe a pensar fundo.
Eu não tenho dúvidas de qual dos poemas prefiro. Este é muito mais bonito do que o de Natália Correia.
Magnífico poema
Luisa
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