Dos longínquos primeiros seis anos da minha vida não me lembro, apenas conheço fotografias e histórias contadas pela família, nomeadamente a ligação que existia entre mim e o meu cão Caju. Parece que nos dávamos bem e até partilhávamos alguns petiscos ao ponto de, pelo menos uma vez, me terem encontrado a saborear a sua comida. Se só meti as mãos dentro do prato do cão e lambi os dedos ou se também lá enfiei a boca não sei, mas não me admiraria que achasse graça a pôr-me de gatas. Nas crianças existe forte tendência para mimetismos, daí transformarem-se mãos, pernas e pés em patas. Ainda por cima, sendo o número 4 aplicável a igual quantidade dos membros de ambos, tornava-se uma posição de execução fácil à mesa gastronómica rente ao chão. Mas voltando ao Caju, pela expressão atenta com que me olha nesta fotografia, ao ver-me devorar a banana toda sem o deixar sequer lambê-la, deve ter-se sentido atraiçoado na expectativa de uma refeição diferente.
M
9 comentários:
E não o deixaste ao menos lamber as cascas? Que foto divertida.
Então a tal amizade que vos unia?
Luisa
Ahahah muito bom! Sentada numa esteira?
As crianças têm alguma tendência para nem sempre abdicarem dos seus interesses, Luisa. O tema da generosidade e da partilha é mais um dos aspectos da educação que os pais têm de desenvolver nos filhos. Mas da parte dos animais há também tendência para não "largar o osso", expressão que neste caso, tratando-se de um cão, se aplica plenamente.
Julgo que sim, Mónica.
Que belissimo achado o teu! Compenetrada. A descrição é uma memória de ternura.
Assisti, uma vez há pelo menos há 50 anos, a uma cena dessas entre o Nuno e o Peter, o cão de um dos tios. Como jovem mãe, fiquei horrorizada com as consequências possíveis daquela promiscuidade, que claro que não houve a não ser uma amizade inesgotável entre os dois
que história adorável, de cumplicidade e partilha entre as crianças e os seus aninais.
Terá sido esta foto tirada depois da degustação da comida do Cajú?
Muito gira esta fotografia. Revisitar a infância
Teresa
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