quinta-feira, dezembro 02, 2021

6. M.

Dos longínquos primeiros seis anos da minha vida não me lembro, apenas conheço fotografias e histórias contadas pela família, nomeadamente a ligação que existia entre mim e o meu cão Caju. Parece que nos dávamos bem e até partilhávamos alguns petiscos ao ponto de, pelo menos uma vez, me terem encontrado a saborear a sua comida. Se só meti as mãos dentro do prato do cão e lambi os dedos ou se também lá enfiei a boca não sei, mas não me admiraria que achasse graça a pôr-me de gatas. Nas crianças existe forte tendência para mimetismos, daí transformarem-se mãos, pernas e pés em patas. Ainda por cima, sendo o número 4 aplicável a igual quantidade dos membros de ambos, tornava-se uma posição de execução fácil à mesa gastronómica rente ao chão. Mas voltando ao Caju, pela expressão atenta com que me olha nesta fotografia, ao ver-me devorar a banana toda sem o deixar sequer lambê-la, deve ter-se sentido atraiçoado na expectativa de uma refeição diferente.

M

9 comentários:

Licínia Quitério disse...

E não o deixaste ao menos lamber as cascas? Que foto divertida.

Anónimo disse...

Então a tal amizade que vos unia?
Luisa

Mónica disse...

Ahahah muito bom! Sentada numa esteira?

M. disse...

As crianças têm alguma tendência para nem sempre abdicarem dos seus interesses, Luisa. O tema da generosidade e da partilha é mais um dos aspectos da educação que os pais têm de desenvolver nos filhos. Mas da parte dos animais há também tendência para não "largar o osso", expressão que neste caso, tratando-se de um cão, se aplica plenamente.

M. disse...

Julgo que sim, Mónica.

bettips disse...

Que belissimo achado o teu! Compenetrada. A descrição é uma memória de ternura.

Justine disse...

Assisti, uma vez há pelo menos há 50 anos, a uma cena dessas entre o Nuno e o Peter, o cão de um dos tios. Como jovem mãe, fiquei horrorizada com as consequências possíveis daquela promiscuidade, que claro que não houve a não ser uma amizade inesgotável entre os dois

mena maya disse...

que história adorável, de cumplicidade e partilha entre as crianças e os seus aninais.
Terá sido esta foto tirada depois da degustação da comida do Cajú?

Anónimo disse...

Muito gira esta fotografia. Revisitar a infância

Teresa