Se pudesse alimentava-me de “entradas”, “aperitivos”, “tapas” porque são uma pequena porção de comida, normalmente muito criativa, com misturas surpreendentes de ingredientes, sabores, cores, seja lá o que for, “debica-se”, partilha-se, trocam-se opiniões e venha outra. Já a Sopa e eu temos uma relação que começou em ódio e sofrimento, o principal motivo de sovas de chinelo ou colher de pau, grande desespero da minha mãe e intervenção do meu pai, por me recusar a comer, nem com as ameaças de comer fria, na refeição seguinte, não sair da mesa enquanto não a comer. Sopa não. Com o tempo-frio-chuvoso de Trás-os-Montes aprendi que a sopa é aquele abraço quentinho e revigorante, sabia tão bem o aconchego de um caldo de cebola e assim fiz as pazes com a Sopa. Por lá, na leva de imigrantes de leste chegados após queda do muro de Berlim, por motivos profissionais conheci uns poucos e convidei-os a irem a minha casa jantar, na condição de serem eles a cozinhar, aceitaram e levei-os ao supermercado para eu fazer as compras, comecei a desconfiar que não iria gostar da comida tendo em conta os ingredientes que iam pondo no carrinho das compras. Mas como anfitriã tinha que aceitar. Eles cozinharam, dei apoio na cozinha sem me envolver. Não me lembro da ementa (eu fiz as sobremesas) mas a sopa foi Borsch, a famosa sopa ucraniana (ou eslava), a sopa era um caldo aguado com muitas coisas lá dentro a boiarem, temperos variados, pedaços de carne gordurosa e regada com natas. Formalmente saborosa. Para mim demasiado forte para sopa. Ultimamente tenho pensado o que será feito deles.
Mónica
7 comentários:
Chinelo e colher de pau?! Livra ... A esse tratamento chama-se "sopa de urso".
Lá em casa também tínhamos esse problema. Tens 5 minutos para comer a sopa, a de tomate que eu detestava. Passados que eram os minutos em que a colher circulava no prato sem que eu provasse sequer a sopa, o meu pai chamava a empregada e dizia-lhe: traga mais um prato de sopa para esta menina se faz favor. Um à frente do outro, a sopa já fria e a ordem que só me podia levantar da mesa quando comesse tudo. Entretanto o meu pai, já sem paciência, saía da mesa, ficava a minha mãe a supervisionar. Passados uns minutos a minha mãe comia a sopa e assim ficava resolvido o assunto.
Primeiro: gosto imenso de tapas, pequenas doses para saborear e como dizes "debica-se" com prazer.
Mas adoro sopa, reconforta!
Muito interessante o que vais contando, a forma divertida de o fazer: e daí nos surgem "outras culturas".
Só depois de velha comecei a gostar de sopa mas em criança era um autêntico pesadelo quando aparecia na mesa~
Luisa
Um relato muito vivo que apreciei.
Concordo e discordo contigo, Mónica: concordo porque também gosto muito de fazer uma refeição só de entradas, discordo porque gosto muito de sopa, sempre a minha refeição da noite...excepto a borsch, que detesto!
Gosto muito de fazer e comer sopa. A borsch nunca provei, mas comi outros pratos ucranianos de que gostei.
Teresa
Enviar um comentário