quinta-feira, dezembro 08, 2022

6. M

Estrelas. Tantas são elas, mas duvido que as três gaivotas da semana passada empoleiradas no telhado as tenham vislumbrado estando o céu azul claro. Terão regressado à praia e encontrado alguma estrela do mar lançada pelas águas revoltas sobre a areia molhada. As que brilham no céu são noctívagas, preferem mostrar-se a quem as procura na limpidez das noites campestres. Atraem-nos na sua beleza de certo modo misteriosa. As crianças desenham-nas, Vincent Van Gogh pintou-as nos quadros Terraço do Café à Noite e A Noite Estrelada. Impressionado com este último quadro e com o que tinha lido sobre a vida do pintor, o músico Don McLean escreveu a comovedora letra da canção Vincent (Starry, Starry Night). Também no conto Les Étoiles Alphonse Daudet fala das estrelas de modo romântico. Numa viagem que fiz à Provence, encontrei um excerto desse conto na decoração do restaurante L’Estellan, em Gordes, perto da bela Nîmes, onde ele nasceu.

Nas ruas das cidades andamos distraídos, o olhar preso nos ecrãs dos telemóveis, só vemos estrelas se batermos com a cabeça nalgum obstáculo com que não contamos, e essas fazem mossa. Felizmente houve quem soubesse onde as colocar no chão que pisamos. No início do século 19, o galego Agapito Serra Fernandes (“terá tido uma boa estrela”, como se diz por aí) industrial do sector alimentar, mandou construir um bairro para os seus trabalhadores: o Bairro Estrela D’Ouro. Ele próprio ali residiu com a sua família, deu os nomes de familiares seus às ruas e um pouco por toda a parte inseriu a estrela de cinco pontas, um dos símbolos da Galiza. Estive lá com uns amigos em 2011 e gostei muito do que vi.

M

 



9 comentários:

Licínia Quitério disse...

Bem me lembro ...

Anónimo disse...

Histórias e personagens muito interessantes. Como acima disse, tenho saudades dos tempos em Alenquer em que íamos passear à noite só para vermos estrelas a sério
Luisa

Justine disse...

Um excelente "passeio" entre variadas e diferentes estrelas, todas elas a chamar-nos a atenção!

bettips disse...

Tão bonita é a música e a letra do Don McLean! O bairro... um exemplar que, ainda, brilha nas memórias de outro século. Surpreendente passeio esse, em que "tropeçamos" em tantas estrelas.

Mónica disse...

Não conhecia o bairro, fui ver ao Google Maps, lá estão as ruas com nomes dos parentes, será que alguém fez alguma monografia sobre o assunto? Gostava de ler, ver as plantas das casas, as histórias.

Mónica disse...

O meu comentário fugiu!

Anónimo disse...

Tantas associações a estrelas. Muito interessantes as fotografias do bairro. Nunca tinha ouvido falar deste bairro na Galiza.

Teresa

M. disse...

Teresa:
Não é na Galiza, é em Lisboa, na zona da Graça.

Anónimo disse...

No teu texto não vejo mencionada a Graça e como falas de um galego que construiu o bairro e dizes "estive lá" deduzi que era na Galiza. Ignorância minha e má interpretação do que li.

Teresa