7. Mónica

São Pedro – em Vila Real os acontecimentos de Santo António prolongam-se mais ou menos intensamente até ao São Pedro, quando os feirantes de bugigangas da rua direita são substituídos pelos vendedores do barro de Bisalhães. O barro de Bisalhães, uma localidade perto de Vila Real, tem a particularidade de ser preto e dizem os de lá, únicos e típicos dali, da região, do país, da península Ibérica, por aí fora, (é Património Cultural Imaterial), aqueles exageros que se repetem sobre o mesmo assunto em diferentes lugares. Tenho a ideia que não há casa em Vila Real que não tenha uma peça de barro preto de Bisalhães, uma peça decorativa ou uma travessa com um formato original (amolgada) para fazer arroz no forno, uma receita típica e muito comum, muito apreciado, feito em casa ou nos restaurantes. Voltando ao São Pedro, nesse dia os vendedores de barro de Bisalhães instalados na rua direita vendem além das peças tradicionais, pequenas peças, miniaturas das peças tradicionais, muito apreciadas e a preço convidativo. Então começa a tradição do jogo: uma pessoa compra uma peça miniatura (ouvi dizer que a brincadeira começou com peças com defeito) e atira a alguém, essa pessoa apanha a peça e segue o jogo. Uma brincadeira entre estranhos e entre amigos, não sei se se salvaguardam as distâncias sociais rigorosas típicas de Vila Real. Se a peça cair parte-se e a pessoa que a deixou cair tem que comprar outra e continua o jogo. Ao fim da noite estão as ruas à volta cheias de cacos pretos, de fugir! É único! Acho engraçada a ideia, consigo imaginar esta tradição com muitos anos, a reciclagem de peças defeituosas era o pretexto para uma brincadeira, de aproximação divertida entre as pessoas e aliviar o prejuízo do oleiro. Nunca entrei na brincadeira, nunca comprei barro de Bisalhães, não gosto, também não gosto do famoso arroz de forno na travessa de barro preto com pedaços de chouriço preto por cima. Gosto destas tradições. Será que continuam?

Mónica