quarta-feira, setembro 10, 2025

6. Mónica

Depois de ler a sinopse do livro da semana viajei até Roma, a terra do Adriano das Memórias, e fui com a minha professora de História. Só podia ser com ela. Explico porquê. A primeira vez que fui a Roma tinha acabado de chegar à 7ª classe, em ambiente revolucionário, com todas as matérias curriculares em mudança, todas não, a matemática, a física, o desenho e a biologia seguiram o seu ritmo, felizmente para mim podia ter umas horas no horário da escola em que parecia que nada mudava a não ser aprofundar os assuntos e a exigência. As outras disciplinas foram viradas do avesso, ou do direito, mudaram a linguagem, a separar os complementos diretos, os sujeitos e os predicados, aprendemos a definição de reacionário, explorador do povo, colonialista, luta de classes, consciência de classe (gosto desta!) e por aí fora, em português, em inglês e a geografia passou a ter o mapa mundo centrado no hemisfério sul. Até a primeira aula de História, não havia livros nem manuais escolares, o programa e as matérias eram surpresa, e a surpresa foi enorme: a professora de História, uma mulher imponente, lábios pintados de encarnado, pulseiras, colares, anéis, roupa colorida e esvoaçante, contrastante com o clima ascético e puritano revolucionário, anuncia em voz bem alta: “vamos viajar a Rrrrroma”, com muitos erres. Eu arregalei os olhos e abri a boca de espanto, para mim Roma era a capital de Itália e romanos os inimigos idiotas do Asterix. Mas não. Os romanos, a civilização romana, a arquitetura, a engenharia, a organização política, as mortes, o circo foram o princípio da nossa cultura. Uma revelação. Um choque. Afinal somos todos descendentes dos romanos. Inesquecível professora de História e a sua viagem guiada a Rrrrroma. Não consigo conceber Roma sem ela, amiga de Adriano e fazendo parte das suas memórias, de certeza.

Mónica

6 comentários:

bettips disse...

Deste a volta com imensa graça e grande espanto nosso, em lendo até ao fim. Espero que "te tivesse prestado" esse período! (diz-se no Norte: "que te preste" quando alguém aprecia a comida...)

Mónica disse...

(O meu comentário não apareceu). Bettips: sim prestou-me, abriu-me os olhos :)

M. disse...

Adoro este texto! Todo ele cheio de pormenores que nos levam imediatamente a imaginar o episódio e reveladores de muito mais do que nos parece à primeira leitura. A crítica, a constatação de uma realidade que viveste numa época conturbada, sei lá, tanta coisa se intui aqui com tanta graça. Não há dúvidas de que tem a tua assinatura. Adoro o estilo!

Justine disse...

Texto excelente, escrito com leveza mas com profundidade, transmitindo claramente toda a informação necessária para te seguir nesse período da tua vida. Que tal escreveres um livro?

Luisa S silva disse...

Gosto imenso dos teus textos

Anónimo disse...

Muito bem observado. Gostei muito do texto e da forma como viveste o período confuso no ensino. Boa professora de história.
Teresa