«As tias sentadas, com as pontas das omoplatas unidas, as costas muito direitas coladas aos maples. Os lenços molhados apertados entre as mãos, longe dos olhos, as lágrimas nas mãos, não nos olhos. As lágrimas nos lenços de assoar…»
««Os dias da ira, entende você?» − disse Antonino, dirigindo-se a Milene, separando as palavras, como se ela fosse surda, ou criança de tenra idade, e ele mesmo estivesse interessado em fazer-se entender. «Você não se julgue única, acontece a toda a gente. Pelo menos uma vez na vida, a ira desaba em cima da cabeça dum indivíduo. Não se sabe quem manda a ira, nem porquê, nem para quê, mas a verdade é que a pessoa está descuidada, e a ira vem. São dias em que um tipo, mal se levanta, dá logo de caras com o esterco da vida… E depois de repente desaparece, mas sempre leva consigo alguma coisa da pessoa que não devolve mais…»»
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«… Bonecas, suas bisnetas tinham tantas que nem se entretinham a embalá-las nem vesti-las, já era só contá-las. Bicicletas, cada um tinha sua, como se nenhuma delas conseguisse ser entalada entre as pernas de nenhum outro…»
***«… As suas mãos de pedreiros, endurecidas e gretadas, não mexiam bem nas cordas, não, mas mesmo tocando assim tão mal, conseguiam pressentir como deveria ser a perfeição…»
O Vento Assobiando nas Gruas, Lídia Jorge
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