quinta-feira, novembro 10, 2011
12. ~pi
Voltei a ouvi-los... eram jovens e antigos e uivavam.
Os braços desceram-me devagarinho, parei de tocar.
Uivaram então mais forte - como antes, longa e distintamente, a chamar.
Eram cinco, eram sete. Cerrei os olhos para ver melhor: cada timbre, cada olho, cada cor, cada traço.
Do poço do fundo recordava. Ali, assombradamente, reflectiam-se aguarelas de adiados detalhes, afinados agora no palidíssimo fio de luz desse ocaso de cidade.
Parei de tocar.
E voltei a ouvi-los... cada vez mais perto. Eram nove. Nove vezes nove, a música recolhida nos braços, agora cruzados. O meu coração é uma bala prestes a abalar. Como no filme, pele a pele, boca a boca, pulso a pulso, transfigurado.
Inesperado, urgente e tão simples como sempre imaginara, o regresso evidente no eco adensado.
E será - como sempre soube, o mais completo e maravilhoso regresso. Cristalino, suave e nupcial: o regresso prolongado.
~pi
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9 comentários:
A delicadeza do som dum violino, a lembrar, a lembrar os gestos antigos.
O pousar, breve como borboleta, nas palavras de um retorno. Lindo ~pi!
Lindos o texto e a foto.
Uma fotografia muito bela a conter dentro dela as palavras delicadas do texto. O pensamento em movimento.
Os ritmos antigos da música e da poesia! Muito belo, Pi!
Há qualquer coisa no texto que me escapa. No entanto, julgo ouvir o choro dos violinos antes do arco. Não, ~Pi, não expliques. Sabes que sou assim... :)
É a morte que escapa, Licínia.
Ouviste o choro e está ali, sim.
E acrescento que:
Ler, para mim, é um caminho traduzível que se faz a corpo inteiro - como quem sobe ou desce e inocentemente, pouco sabe do que vai encontrar.
É que não há muito que explicar, somos meros aprendizes de tudo - parece-me que hei-de sempre arriscar a deixar a fonte interior dizer-me, ainda que o véu possa ser escuro e denso, ainda que muito escape, inclusive de mim :-)
A todos, obrigada pelas vossas... aguarelas de palavras - hoje, que chove, parecem-me aguarelas
~
Ler e ouvir tocar violinos. Ótima companhia.
Estou como a Licínia, qualquer coisa no texto escapa à minha compreensão. Mas a fotografia é bonita e o som do violino lindíssimo.
Teresa Silva
Os nossos ouvidos ouvem o que dentro de nós toca...
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