quinta-feira, novembro 17, 2011

No dia 24 de Novembro são esperadas belas fotografias...

Dia 24 - Fotografando as palavras de outros sobre este excerto belíssimo de uma crónica de António Lobo Antunes (Adoro as crónicas dele.)


O cheiro das ondas no instante
em que o ar é mais frio do que a água

«Normalmente é no terceiro minuto a partir do crepúsculo que o ar da praia é mais frio do que a água. Não no segundo nem no quarto: no terceiro e durante onze segundos, o que requer discernimento, atenção e paciência. O melhor é encostarmo-nos à muralha, de queixo na palma, vigiar as gaivotas, dar fé da mudança de cor no horizonte e nisto, mal o terceiro minuto começa, tira-se a palma do queixo para que o ar poise nela e aí está: pega-se no ar da praia, mete-se no bolso e leva-se para casa sem deixar entornar. Tem de utilizar-se logo visto que no dia seguinte, a partir das dez, já o ar aqueceu. Puxa-se com cuidado do bolso e respira-se devagarinho. Quase sempre, então, os pinheiros estremecem e parece existir, nas mulheres da família, uma espécie de vontade de chorar. Não de tristeza, claro: do facto de existir para sempre, dentro delas, um búzio comovido.»

in Segundo Livro de Crónicas, António Lobo Antunes, Publicações Dom Quixote, Outubro de 2002

2 comentários:

Anónimo disse...

Precioso momento descrito belamente por A. Lobo Antunes.
E de escolha difícil, se não quisermos ser redutores e desejarmos abranger todo o cambiante de sentimentos aqui desfiado à beira mar - e logo trazido para "o lar" primordial: a mulher!

Anónimo disse...

Isto acima é meu: bettips.
Abçs