quinta-feira, abril 19, 2012

5. Licínia

Cansava-se, só de vê-las, só de pensá-las. Dizia "escadas" como quem soluça e explicava: "Se levassem ao céu..."
Levavam ao salão bonito, de madeiras bonitas, cheiroso à gente bonita que ali dançara. Vermelhas, as escadas, como o seu sangue, como as faces das moças bonitas que outrora dançaram na sala bonita.
Ficou cansada, pesada, dormente, só de pensá-las. Chegada ao cimo, chegada à sala, dobrou-se nas pernas, mirou-se num vidro e disse: "Como peixes de luz a nadar nos meus olhos.".
"Está louca!", exclamaram.
Já não estava cansada. Fumou um cigarro e sorriu.

Licínia Quitério

2 comentários:

bettips disse...

Luísa (não a nossa, a da calçada) profundamente preocupada com o R Mínimo ou lá o que seja que se chama "a inserção" hipócrita,
sonha.
Alma de poeta, Luísa, a que limpa escadas e te emprestou um sentimento só dela.: que o sonho lhe comanda a vida.

Justine disse...

O sonho torna-nos leves! E a poesia também! Grande texto, amiga:-)))))