quinta-feira, setembro 13, 2012

9. ~pi



Como num filme com final aberto, como se os olhos nada fossem senão uma máquina de traduzir a causa absurda de tantas palavras engolidas do acaso, ancorara ali, a desfazer o miolo do pão no prato quase intacto: como num filme se fora parando a sua vida, esférica era a visão que se lhe esfarolava neste preciso momento, em câmara lenta, por dentro do cenário a preto e branco, cine citá construída no estaleiro pesado de muitas horas vagas, como agulhas muito finas. 
Como num filme, à medida que o dia e a memória desse dia em que fora o princípio dum barco avançava, ali se via sempre, amarrado pelo pulso ao cais, numa outra vida, numa outra tela, perplexo de si, vagueando por dentro das palavras desse guião absurdo e quase informe, metadiscurso e mimese de si, sem dedos, sem veias, sem tecidos. E la nave va, murmurou, inaudível. 

~pi

3 comentários:

Licínia Quitério disse...

Quando o surreal toma conta do filme, ou vice-versa...

Justine disse...

Assim como a vida...

Anónimo disse...

Soltar amarras
da fortaleza velha para um monte novo.
Belo~~pi~~
Abçs da bettips