Nasci
da minha árvore-mãe e era apenas um ponto indefinido nos primeiros
dias frios do ano.
(os
humanos nada nos disseram, miravam rápidos os ramos de onde iríamos
nascer, descontentes e sem crença).Lutei bravamente para sair, sob a chuva e o nevoeiro, eu e tantas das minhas irmãs.
Vimos
o sol de Março, a geada a sobressaltar-nos de cristais brancos: e
resistimos.
Dançámos
com as raparigas de Maio e os primeiros ventos cálidos.
Abrimos
as palmas da mão-sombra nos dias quentes de Verão.
(os
humanos que raras vezes olham para cima, tão desprendidos andam da
dança das estações, surpreenderam-se com o conforto que lhes
dávamos)
Voltamos
hoje, enfeitadas das cores mais belas que encontrámos e acenamos uma
promessa.
De
sermos alimento, levadas pela chuva e desfeitas no húmus que
fertiliza a Terra.
(e
desta vez ouvimos os humanos admirarem as nossas pinturas, presos
duma vaga melancolia de Outono. Não ouvem o que estes tons sublimes
lhes dizem porque eles falam em despedida espiritual: iremos mas ao
mesmo tempo ficamos).
Bettips
4 comentários:
Gostei de ouvir a vos das folhas. E tanto que elas têm para nos contar.
Belo texto que nos envolve em
dois registos os elementos da
permanente metamorfose que nos
sustenta
Belo texto que nos envolve em
dois registos os elementos da
permanente metamorfose que nos
sustenta
Como as folhas falam sabiamente! Como elas sabem que na natureza nada se perde...
Enviar um comentário