quinta-feira, novembro 21, 2013

3. Bettips

Nasci da minha árvore-mãe e era apenas um ponto indefinido nos primeiros dias frios do ano.
(os humanos nada nos disseram, miravam rápidos os ramos de onde iríamos nascer, descontentes e sem crença).
  
Lutei bravamente para sair, sob a chuva e o nevoeiro, eu e tantas das minhas irmãs.

Vimos o sol de Março, a geada a sobressaltar-nos de cristais brancos: e resistimos.
Dançámos com as raparigas de Maio e os primeiros ventos cálidos.
Abrimos as palmas da mão-sombra nos dias quentes de Verão.
(os humanos que raras vezes olham para cima, tão desprendidos andam da dança das estações, surpreenderam-se com o conforto que lhes dávamos)

Voltamos hoje, enfeitadas das cores mais belas que encontrámos e acenamos uma promessa.
De sermos alimento, levadas pela chuva e desfeitas no húmus que fertiliza a Terra.
(e desta vez ouvimos os humanos admirarem as nossas pinturas, presos duma vaga melancolia de Outono. Não ouvem o que estes tons sublimes lhes dizem porque eles falam em despedida espiritual: iremos mas ao mesmo tempo ficamos).

Bettips

4 comentários:

Benó disse...

Gostei de ouvir a vos das folhas. E tanto que elas têm para nos contar.

Rocha de Sousa disse...


Belo texto que nos envolve em
dois registos os elementos da
permanente metamorfose que nos
sustenta

Rocha de Sousa disse...

Belo texto que nos envolve em
dois registos os elementos da
permanente metamorfose que nos
sustenta

Justine disse...

Como as folhas falam sabiamente! Como elas sabem que na natureza nada se perde...