quinta-feira, novembro 14, 2013

8. M.



Não feches a porta, disse ela, debruçando-se sobre o parapeito da janela do primeiro andar.
A amiga tinha acabado de descer as escadas que gemiam sob o peso dos seus passos e chegara naquele momento ao pátio onde as crianças da vizinhança brincavam. Acenaram uma à outra em jeito de despedida. 
Não feches a porta, recomendou de novo. Deixa-a encostada. O sol e o vento gostam de se refugiar ali quando brincam às escondidas com os meninos. Lembras-te como era divertido? 
Leonor lembrava-se. Nesse tempo a porta estava pintada de verde vivo e as dobradiças não chiavam. Nem as minhas... respondeu, o sorriso gaiato a abrir caminho entre as rugas do rosto. 

M

10 comentários:

Justine disse...

Um começo de conto que me deixa suspensa, a imaginar a história de vida das duas amigas! Longa, a avaliar pelo estado da porta...

bettips disse...

Hoje deu-me para isto! Lembrei-me de "As luzes de Leonor" ao ler este teu trecho. Eventualmente.
Mas em todas as nossas infâncias há uma porta misteriosa como esta, onde se vê o uso mas não o passo.
(fico contente que a amiga tenha ficado à janela e a despedida fosse de sorriso, já nem se usa...)

agrades disse...

Lembrei-me das palavras da minha sogra: deixa a porta unida. Não era fechada, nem aberta...
Uma recordação antiga como a porta que outrora foi verde. Tudo amadurece, se houver tempo.

Luisa disse...

Uma boa pintura na porta e no rosto das duas amigas poderá fazer com que a juventude volte e possam brincar ainda com as crianças. Ferrugem nunca.

jawaa disse...


O verde ainda presente, se bem que desbotado, e a maçaneta a jeito para os meninos brincarem às escondidas sob o olhar das avós.

Benó disse...

Portas velhas, lembranças de crianças. Ao abri-la, quantas recordações não virão à memória.

Licínia Quitério disse...

A porta da infância deve ficar sempre entreaberta. Ajuda muito a alisar as rugas, pelo menos as da memória.

Anónimo disse...

A infância o nosso melhor tempo, onde o tempo não tem tempo e as portas estão sempre abertas
M.J.Jara

Rocha de Sousa disse...

Cá está uma porta que apetece
deixar como está, fechada, porque
o vento e a luz entram pelas suas
fendas. E depois aquele velho ma-
nípulo ergonómico, muito bem in-
ventado e desenhado, se apresenta
emblematicamente em «pose»

Rocha de Sousa disse...

Cá está uma porta que apetece
deixar como está, fechada, porque
o vento e a luz entram pelas suas
fendas. E depois aquele velho ma-
nípulo ergonómico, muito bem in-
ventado e desenhado, se apresenta
emblematicamente em «pose»