Pronto.
A palavra surgiu-me de repente sem eu saber exatamente o que fazer com
ela, preparava eu a agenda de desafios para janeiro do novo ano.
Deixei-a abrigada num dos cantos do pensamento, convencida de
que tinha o problema resolvido se conseguisse formar uma frase onde se
sentisse bem. O pior é que as palavras brincam às escondidas e amiúde
desaparecem entre fissuras diversas sem que sejamos capazes de as
agarrar a tempo de lhes apresentar companhia adequada. Pronto. Pronto o
quê? O fim do início de uma ideia por desenvolver? Posta de parte sem se
revelar? A pergunta pressupunha desistência, o que me desagradava.
Talvez «Pronto a comer», embora título demasiado conciso e comercial
para tamanha doçura de um Monte Dourado. Lindo o nome, o sol escorrendo
sobre alvos castelos. A lembrar-me a minha Tia Chanel e a sua sobremesa
habitual nos dias de festa em casa dos meus Pais. Cozinho-a eu agora,
assim presentes ambas no sabor dos ingredientes que as recordações podem
conter.
M
10 comentários:
Esta imagem, tal qual, num pirex redondo, recorda a minha infância na fazenda africana. Sempre que chegava alguém para o almoço sem ser esperado, a sobremesa era invariavelmente isto, porque sobravam por lá ovos e frutas. Não sei se a tua receita é esta: claras batidas sobre banana ou manga, ou abacaxi focinho, que iam ao forno cozer -12 M certos - e ficavam com o sabor da fruta. Por cima os ovos moles feitos com as gemas, nozes ou amêndoas a enfeitar por cima.
É sempre um prazer o cheiro das memórias.
Bem hajas por mais isto, M.
Queria dizer abacaxi muito doce, de cor alaranjada, que nada tem a ver com o ananás que por cá se vende nos supermercados.
Onde a palavra "Pronto" nos pode levar! À Tia Chanel, aos calores de África da jawwa, às nossas recordações das casas onde havia ovos com fartura para se fazerem estes doces.
Pronto, já fiquei com água na boca. A foto está fantástica e lembra-me a "ilha flutuante" da minha juventude.
A receita do Monte Dourado, tal e qual como me foi passada pela Tia Chanel:
12 ovos
24 colheres de sopa de açúcar
1 cálice de vinho do Porto
Bater 12 claras. Quando estão quase em castelo juntar 12 colheres de açúcar e bater ainda um pouco.
Com 12 colheres de açúcar, um pouco de água e baunilha (para quem gostar) levar ao lume. Estando um pouco em ponto de pasta juntar as 12 gemas (apenas desfeitas, não batidas) e passá-las pela rede, querendo. Tirar a baunilha. Levar as gemas ao lume para cozer, mexendo sempre. No fim, já fora do lume, juntar um cálice de vinho do Porto. Forno brando para as claras em prato untado com manteiga. Depois de tiradas as claras do forno, onde foram a alourar, deitar por cima as gemas.
Além de bom aspecto, é lindo e trás memórias doces agarradas!
Não me tenta tanta doçura, mas seduz-me a recordação da Tia Chanel que em tão boa hora nos apresentaste.
Coisas tão docinhas e tão boas que me deixam água na boca, pronto.
Excelente reflexão sobre a linguagem, as sobremesas, as recordações e a sua continuidade...
Farofiando de pronto, pronto
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