Ao
olhar para esta fotografia imagino uma criança a espreitar através
de um buraco algo que lhe desperta curiosidade. Talvez porque muito
diferente do seu mundo, talvez porque encontra também ali qualquer
coisa que lhe é familiar. Sente-se confusa. Os edifícios diante de
si lembram-lhe as construções de areia na praia onde passa as
férias de verão. As pessoas crescidas contam-lhe histórias de
tempos antigos, falam-lhe com entusiasmo da solidez destas paredes e
torres erguidas por mãos fortes. Quer acreditar nas certezas dos
adultos mas, por outro lado, as experiências que vai fazendo no seu
mundo muito próprio mostram-lhe que nem sempre assim acontece. Pois
não. Sentada à beira-mar, enche e esvazia baldes com areia
construindo castelos frágeis cujas paredes reforça com búzios e
conchas. No seu frenesim de arquitecta de fantasias, não repara nas
ondas irrequietas que se aproximam inundando o fosso protector cavado
com a pá à volta das muralhas. Caem por terra, desfeitos, os
castelos e os rendilhados de areia molhada das janelas e varandas de
princesas inventadas. Oh!
M
3 comentários:
M., um texto magnífico de simbolismo e de sensibilidade! Quem me dera ter esse dom de ver a realidade pelos olhos deslumbrados de uma criança, como tu tão bem fazes! Qualidade que só as avós têm???
A M. e o seu olhar perscrutador do mundo da criança. O castelo de areia é uma bela alegoria da obra e da sua efemeridade.
No jardim de areia, havia algas...
A pedra é da cor da areia. (relendo e relembrando)
Ser pequeno é importante: tenho o maior respeito pelos pequeninos e as nossas lembranças de antanho.
Bj da bettips
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