quinta-feira, janeiro 16, 2014

8. M.

Ao olhar para esta fotografia imagino uma criança a espreitar através de um buraco algo que lhe desperta curiosidade. Talvez porque muito diferente do seu mundo, talvez porque encontra também ali qualquer coisa que lhe é familiar. Sente-se confusa. Os edifícios diante de si lembram-lhe as construções de areia na praia onde passa as férias de verão. As pessoas crescidas contam-lhe histórias de tempos antigos, falam-lhe com entusiasmo da solidez destas paredes e torres erguidas por mãos fortes. Quer acreditar nas certezas dos adultos mas, por outro lado, as experiências que vai fazendo no seu mundo muito próprio mostram-lhe que nem sempre assim acontece. Pois não. Sentada à beira-mar, enche e esvazia baldes com areia construindo castelos frágeis cujas paredes reforça com búzios e conchas. No seu frenesim de arquitecta de fantasias, não repara nas ondas irrequietas que se aproximam inundando o fosso protector cavado com a pá à volta das muralhas. Caem por terra, desfeitos, os castelos e os rendilhados de areia molhada das janelas e varandas de princesas inventadas. Oh!
M

3 comentários:

Justine disse...

M., um texto magnífico de simbolismo e de sensibilidade! Quem me dera ter esse dom de ver a realidade pelos olhos deslumbrados de uma criança, como tu tão bem fazes! Qualidade que só as avós têm???

Licínia Quitério disse...

A M. e o seu olhar perscrutador do mundo da criança. O castelo de areia é uma bela alegoria da obra e da sua efemeridade.

Anónimo disse...

No jardim de areia, havia algas...
A pedra é da cor da areia. (relendo e relembrando)

Ser pequeno é importante: tenho o maior respeito pelos pequeninos e as nossas lembranças de antanho.
Bj da bettips