Na
introdução do livro A História de Murasaki, Liza Dalby, a sua autora, escreve:
«Em
japonês um conto,
monogatari,
significa história – contar coisas, literalmente. Pode haver num
conto uma sólida trama factual mas, como género, é considerado
ficção. O conto mais famoso de toda a literatura japonesa é a
longa História
de Genji (Genji Monogatari),
escrito no século XI pela dama da corte, Murasaki Shikibu.
A
autora dessa obra extraordinária é o tema de A
História de Murasaki.
A partir do fragmento histórico que é o diário reconstituí um
livro de memórias imaginárias, como quem coloca os fragmentos
originais num recipiente de barro moderno – fiz uma espécie de
arqueologia literária. A forma dos fragmentos determina a estrutura
do vaso, por isso o meu conto tem a forma de um diário poético,
género literário muito praticado no tempo de Murasaki. E, embora o
material de reconstituição seja novo, misturei-o com a
sensibilidade, crenças e preocupações do século XI.
Os
poemas são todos de Murasaki ou das pessoas que ela envolveu no
diálogo poético. A poesia, na forma fixa intitulada waka
(precursora
do haiku),
era o principal meio de comunicação entre os homens e as mulheres
do círculo de Murasaki. Na colectânea dos seus poemas, os waka
têm muitas vezes títulos breves, sinais que sugerem as
circunstâncias em que foram escritos. Foi com esses sinais que eu
construí a minha história.
Imaginei
Murasaki no final da vida a escrever estas memórias, que foram
encontradas depois da sua morte pela filha, Katako.»