quinta-feira, março 20, 2014

7. M.

Desalento. Claustrofobia. Confusa a geometria do espaço, perturbante a composição dos azulejos repetida até à exaustão no chão e na parede, pouco significativa a posição dos quadrados para marcar a diferença, apenas uma ligeira rotação dissimulando a semelhança. O ambiente é fechado, restritivo. Onde encontrar a linha do trilho? Onde pousar os passos? Onde apoiar a vida? Que fazer com a ilusão? Como destruir a aresta do tédio? Onde soltar a frustração?
Debruçam-se corpos anónimos sobre mesas frias, hirtos, lívidos, juntos na solidão silenciosa de cada um. Em que lugar aquecer o olhar se o céu parece enclausurado dentro de um triângulo? Em que Universo te escondes, ó sol? 
M

6 comentários:

M. disse...

Fotografia tirada no Porto, na Casa da Música, junto do restaurante no topo do edifício, quase junto ao céu.

bettips disse...

Pois é, só os acordes da Música nos fariam "despertar" desse teu desnudado/desencantado olhar sobre essa solidão. Metálica e como uma prisão de ladrilhos frios.
Ou esperar que gente chegue para desinquietar...

Justine disse...

Como já te disse nas "reflexões Caseiras", que tal um novo olhar sobre a tua foto? Tão bela que é, certamente te despertará um comentário menos triste, menos amargo...

M. disse...

Não acho que o meu olhar sobre esta minha foto seja amargo, é apenas uma metáfora do que em parte sentimos neste nosso mundo de loucuras, desesperos, mentiras, ilusões que nos são impostas em detrimento do que é importante, falácias ("pouco significativa a posição dos quadrados para marcar a diferença, apenas um aligeira rotação dissimulando a semelhança"), tédio com tudo isto que nos envolve, com o materialismo gritante que nos sufoca. Apenas faço uma reflexão sobre uma parte da vida que nos rodeia contra nossa vontade.

Luisa disse...

Fica-me as tuas palavras o tédio

Justine disse...

Sim, M., é uma metáfora deste tempo de desalento, de claustrofobia, de insegurança, de desilusão!Talvez seja mais correcto, então, dizer ao contrário: quando olhei a tua foto estava num momento de fuga do presente, e "mergulhei de cabeça" nas suaves recordações do passado...