quinta-feira, março 12, 2015

9. Rocha/Desenhamento



Não te espantes com este título. É bem português, roça os anos 60, era no tempo em que se emigrava num doloroso anonimato, 30.000 pessoas por mês, em autocarros meio velhos, à revelia do regime, ao acaso do futuro, tendo os pirinéus pela frente, fronteiras atravessadas a pé, o carro retomado mais à frente. Esta capa, do pintor Rocha de Sousa, crispa o desenho a partir de uma fotografia tirada praticamente ao acaso e procurando sugerir com as letras do título do livro um cabeçalho de jornal. Era o tempo da fotografia rasgada: metade ficava na aldeia, com a família, a outra metade levava o «foragido». Quando estivesse a trabalhar, nos subúrbios de Paris, enviava a sua metade e a família o saberia enfim vivo e empregado.
Nuno Rocha, o jornalista que escreveu esta crónica da «Emigração Dolorosa», fez-se passar por emigrante e foi para Paris na camioneta, passando por todas as vicissitudes das revistas da polícia espanhola. Em Paris, com a máquina de escrever que transportara na mala, escreveu grande parte de uma das reportagens mais fortes da sua vida e da nossa história. 
Rocha de Sousa

8 comentários:

Justine disse...

Tempos muito, muito difíceis, de sacrifícios e heroísmos...
Não conheço o livro mas fiquei interessada. E parabéns pela capa!

agrades disse...

Dores e dificuldades de ontem que se repetem hoje.

M. disse...

Também não conheço o livro. Certamente muito interessante pelo que conta de uma época em que alguns de nós vivemos. O episódio verídico da fotografia cortada ao meio é de uma enorme beleza pelo que representa. A capa do livro é também muito bonita.

Luisa disse...

Os portugueses sempre passaram por tempos difíceis.

bettips disse...

...além da "guerra", este foi um escoar de sangue nosso. O que hoje também acontece com os diplomados sem emprego.
(e na hipocrisia do "tal" de programa "VEM" nos enrolam)
Não conheço o livro, parabéns ao autor pela coragem e ao pintor da capa, pela sugestão de miséria e desconforto que evoca.

Licínia Quitério disse...

Gosto do texto, gosto da capa. Não conheço o livro, mas apetece conhecer. Gente cortada ao meio, como o retrato.

jawaa disse...


A nossa história repetida.

mena maya disse...

Espanta-me sempre, o engenho de dar a volta aos problemas, com uma solução genial como a da fotografia rasgada!